sábado, 3 de setembro de 2011

Poesia entre luz e sombra

No livro, o poeta revela contrastes temáticos entre o passado e o presente, o sombrio e o alegre (MAURI MELO)
O escritor cearense Luciano Maia lança o livro de poesias inéditas Claroscuro, abordando a passagem do tempo e a preocupação com o planeta
 
Em troca de correspondências com o jornalista e poeta baiano Ildásio Tavares, falecido no ano passado, o poeta Luciano Maia descobriu algo no seu estilo poético, que até então não tinha percebido. Suas principais poesias revelavam contrastes temáticos entre a distância e o encontro, o passado e o presente, o sombrio e o alegre. “São opostos bem próximos ao neobarroco. Era algo que estava ali na minha poesia, mas que ainda não tinha racionalizado”, confessa. A constatação das dicotomias conduziu ao título do último livro de Luciano Maia.

Claroscuro é uma referência direta ao “chiaroscuro”, técnica inovadora da pintura do renascentista Leonardo da Vinci, que foi aperfeiçoada pelos pintores barrocos, com o propósito de definir o contraste entre luz e sombra na representação de um objeto. Nas 68 poesias que compõem o livro, há um desdobramento de tudo aquilo que Luciano Maia já colocava em prática em obras anteriores. “Trato a poesia com lirismo, com temas que também demonstram preocupação com o planeta”, afirma Luciano. 

No prefácio, uma carta do professor Raúl Lavalle, da Universidade Católica da Argentina, dimensiona a predileção de Maia por poesias que abordam a passagem do tempo, o mar real ou figurado, a cultura latino-americana. “Sou amigo de Lavalle, desde 98. Ele leu os originais e pediu que escrevesse a apresentação do livro em forma epistolar”, contextualiza Maia. 

Uma das características da poesia de Luciano é a musicalidade. Seu livro Jaguaribe – Memória das Águas (1982) foi relançado no ano passado e musicado por Rodger Rogério. “A poesia tem ritmo interno, assim como a música tem seu ritmo interior que exteriorizado em som”, pontua. Maia confirma que é adepto do decassílabo e que sua poesia tem uma preocupação formal. “Posso me considerar um fanático pelo soneto. Meu verso é medido e sem firulas”. 

Além de poeta, ensaísta e tradutor, Luciano Maia é professor do curso de Direito da Universidade de Fortaleza (Unifor). É titular da cadeira 23 da Academia Cearense de Letras e membro da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo. Seus principais livros são Seara (1986), Nau Capitânia (1987), Os Quatro Naipes (1989), Vitral com Pássaros (2002), Pátria dos Cataventos (2007) e Mar e Vento (2009). 

Camila Vieira
camilavieira@opovo.com.br

Sardinha se destaca na mesa


Caponga atrai visitantes e veranistas, com a realização de mais uma nova edição do Festival da Sardinha

Fortaleza. Uma iniciativa que objetiva, sobretudo, alavancar o turismo na baixa estação, tendo em vista o destino para o período da alta. Essa é uma das metas que está sendo alcançada nas edições do Festival da Sardinha, que acontece na Caponga, em Cascavel.

Dos dias 9 a 11, acontece a quarta edição, que este ano terá envolvimento das mulheres e filhos e dos próprios pescadores, além de todo o trade local. O evento contará com uma intensa programação cultural, gastronômica, turística e ambiental, com atividades tanto acontecendo durante o dia, quanto à noite.

O presidente da Associação dos Empreendedores de Turismo, Artesanato e Cultura (Assetuc), Mamede Rebouças, disse que a ideia tem ganhado corpo ao longo do tempo. "Hoje, realizamos uma atividade que destaca a região como destino turístico, e ressaltamos a sardinha como elemento importante da culinária, quando no passado esse pescado era utilizado apenas como isca para peixes maiores", disse Mamede.

Como uma grande festa, em que todos colaboram para realçar o brilho, garçons e operadores de hoteis e pousadas são treinados nos receptivos, mulheres recebem cursos de receitas com o pescado e os filhos participam de oficinas de desenhos, que acabam ornamentando as velas das embarcações dos pais pescadores. Com isso, conforme salienta Mamede, as atividades são complementadas com cursos e oficinas de capacitação na área de gastronomia, artesanato e qualidade no atendimento ao público.

A 4ª edição do Festival da Sardinha terá no seu planejamento de produção um trabalho especial destinado à preservação e educação ambiental. Oficinas de material reciclável, blitz ecológica, campanha de limpeza na praia com cortejo multicultural e todo um sistema de coleta seletiva do lixo gerado pelo festival.

Mamede lembra que no início foi visto com desdém, porque se tinha imagem equivocada que "sardinha era comida de pobre". Com o desafio de desmistificar esse conceito, os festivais foram pródigos em apresentar novas receitas, como moquecas, tortas, lasanhas, ao molho de maracujá, acarajés, dentre outras iguarias.

A diretora executiva do Festival da Sardinha, Katiuce Rodrigues, explicou que a sardinha é uma grande aliada da saúde por conter a substância ômega 3. Além da sua riqueza nutritiva, é também um pescado saboroso. A sua pesca, realizada principalmente nos meses de junho, julho e agosto, nas embarcações denominadas paquetes, representa um momento de grande movimentação social dentro da cidade.

No período de pesca, durante a noite, comerciantes, veranistas, visitantes e a população em geral, se reúnem no calçadão da beira mar da Caponga para comprar o peixe.

"A proposta do festival é justamente integrar toda essa bagagem cultural, gastronômica e social da sardinha como forma de divulgar e valorizar o pescado que foi de isca a prato principal, após a realização do primeiro festival", afirma Katiuce. Hoje o Festival da Sardinha é um projeto com grande repercussão no Litoral Leste e de fundamental importância para o desenvolvimento turístico da região. Em sua 4º edição, o projeto que envolve gastronomia, arte e música reafirma seu objetivo de contribuir para o engrandecimento da sardinha, pescado típico da região, agregando valor ao produto final, além da preservação e valorização dos costumes e tradições da comunidade local.

Atrativos
Cascavel é conhecida por ter a maior e mais popular feira livre do Ceará, marca registrada do Município, que atrai comerciantes e turistas de todo o Estado para conhecer e adquirir produtos da sua rica e diversificada expressão cultural, principalmente no uso do barro e do cipó.

Localizado a 60km de Fortaleza, o Município, além da feira, possui um litoral com praias de rara beleza, no encontro do rio com o mar em Águas Belas, nas vilas de pescadores, onde as expressões culturais que são mantidas há séculos como a pesca artesanal com jangadas, reisados, artesanato em renda, barro e cipó, regatas de paquete e jangadas, danças do coco, capoeira, bandas de fanfarra, quadrilhas juninas e a culinária com suas peixadas e pratos com frutos do mar.

Litoral Leste
"Forte apelo cultural integrado ao valor gastronômico da sardinha. Além disso, a proposta de preservação do meio ambiente e o resgate das tradições dos seus habitantes, fazem com que o evento se configure no cenário ideal para a realização do 4º Festival, promovendo a cultura, gastronomia, turismo e meio Ambiente no litoral leste", avalia Katiuce.

Entre as atividades que antecederam o Festival, destacou-se o Concurso de Desenho, que visou a contribuir para o processo de mudanças de atitude nas crianças e jovens. Foi destinado a alunos das escolas municipais da Caponga e teve como tema "A Sustentabilidade Econômica do Turismo para a Comunidade da Caponga".

Crescimento
26 embarcações atuam hoje na pesca da sardinha na Praia da Caponga, em Cascaval, quando antes havia apenas três barcos. O crescimento ocorreu nos últimos sete anos

MAIS INFORMAÇÕES
Associação dos Empreendimentos Turisticos de Cascavel (Assetuc) - Telefone: 9995-0925
Assetuc@hotmail.com


MARCUS PEIXOTO 
Repórter

Sobral é o destaque do Vale do Acaraú


A cidade, considerada de médio porte, possui uma população estimada em 200 mil habitantes

Em 245 anos de criação, Sobral é, realmente, o maior destaque do Vale do Acaraú,pelo rico patrimônio cultural, histórico, desportivo e religioso. As belas igrejas e os inúmeros casarões preservam o estilo dos séculos vividos, associados aos museus com diferentes temas como a teoria da relatividade e as artes sacras e contemporâneas. A cidade, considerada de médio porte, possui uma população estimada em 200 mil habitantes, em sua maioria residente na área urbana, e é detentora de uma riqueza turística nas áreas religiosa, de eventos, científica, esportiva e cultural.

O município está encravado num espaço de 2.123 Km2 do vale e vive um clima de 22 a 33 graus centígrados e detém quase uma dezena de reservatórios d’água que são os responsáveis pelo abastecimento da população. Em seu território localiza-se o Parque Ecológico da Lagoa da Fazenda e Floresta Nacional de Sobral.

Na sede, cinco agências bancárias dão suporteà sua vocação econômica que varia entre a agricultura, criação de animais e suas culturas derivadas, fabrico de laticínios, conservas, sucos de frutas e hortaliças. É considerada uma das cidades que lideram um percentual forte nas áreas de saúde, educação e infraestrutura, tanto que a taxa de alfabetização de seus moradores se aproxima dos 76 pontos percentuais e a de escolaridade média chega os 60 %, com a do fundamental atingindo os 99 por cento.

A Universidade do Vale do Acaraú tem sua reitoria lá instalada, oferecendo vários cursos no âmbito superior. Cinco hospitais dão suporte à saúde dos sobralenses e das cidades circunvizinhas e as pesquisas demonstram que seus quase 40 mil domicílios possuem os devidos serviços públicos.

Contudo, o forte mesmo de seus moradores responde pelo quesito cultural. O patrimônio histórico é composto pelo Centro Histórico, e o Teatro São João e dois cinemas. O centro de convenções e três museus são os equipamentos culturais e muitas são os festejos popularescomemorados na cidade, dentre os quais, a realização anual da Exposição Agropecuária e do dia do município.
É, portanto, uma grande diversidade de atrativos. Suas belezas começam pelo Arco do Triunfo, majestosamente localizado na entrada principal da urbe, e passam pelos casarios e antigos sobrados, igrejas seculares e o famoso conjunto do Teatro São João que são o testemunho de uma boa parcela histórica do Ceará. Outra bela paisagem que oferece é a margem do rio Acaraú que propicia uma praia virtual que, junta por obras desenvolvimentistas realizadas por continuadas administrações, tornam-na um cartão postal e um marco da beleza municipal.

Há que se destacar o lado “curioso” da Princesa do Norte que se localiza exatamente no centro nervoso do seu comércio que é o famoso “Beco do Cotovelo”, local onde se pode tomar conhecimento de tudo o que acontece nos meios sociais e políticos da cidade, em poucos minutos. É um ponto por demais agradável.

Para o visitante, Sobral oferece bons hotéis, pousadas, clubes sociais, restaurantes e bares, um estádio e uma diversidade de “points” de diversão que têm de um tudo para o lazer sadio e gostoso para ser desfrutado, também, em praças e logradouros públicos bem equipados e devidamente arborizados para minorar o calor que predomina durante o dia. Um completo setor de comunicação faz parte do receptivo.

Sobral é privilegiada por sua localização geográfica. Dista 230 Km. de Fortaleza, 120 do litoral de Camocim, 70 da Chapada da Ibiapaba e sua área de proteção ambiental, 16 da serra da Meruoca e 170 de Jericoacoara. Para seu acesso, a BR – 222 é a principal via terrestre.

 Por Hélio Rocha Lima

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Vatá é coisa nossa

Para o desenvolvimento das novas montagens, Valéria Pinheiro brincou com todas as referências conquistadas ao longo dos últimos 10 anos (FOTO DIVULGAÇÃO)

Coletivo de cenas e sons comandado por Valéria Pinheiro completa 10 anos de atuação nos nossos palcos. A festa tem programação ampla e conta com a estreia de quatro novas montagens

Valéria Pinheiro nasceu em Juazeiro do Norte, correndo atrás de reisados, e carrega o sertão no DNA. Aos cinco anos, foi com a família para Manaus e de lá passeou pelo mundo. Morou no Rio de Janeiro e Nova York, viajou pela Europa, África e Ásia. Formou-se engenheira civil e com o diploma na mão foi ser artista no Rio de Janeiro. Em 2000, ancorou em Fortaleza e no ano seguinte transformou a Cia. Vatá, que iniciara ainda no Rio, numa companhia de brincantes genuinamente cearense, como ela define. Neste ano, o grupo completa uma década contada a partir de sua gênese em terra natal e Valéria comemora bodas de prata como coreógrafa. Para celebrar, depois de três anos de gestação, quatro espetáculos inéditos serão montados entre setembro e outubro.

Mo ky bu ‘sta? (Como você está?) é o mais experimental de todos, resultado de uma temporada na África que instigou o grupo a pensar sobre instabilidade. São Bento Pequeno reúne os dançarinos-brincantes da companhia e o núcleo de capoeira do Teatro das Marias, a sede da Cia Vatá que virou Ponto de Cultura do Governo Federal. Cartas do Asilo parte da biografia de Camille Claudel, a famosa amante de Rodin internada num manicômio mesmo sã. E, por fim, Anos Loucos, uma experiência diferente para o grupo: um musical sobre os anos 1920. As comemorações incluem ainda um documentário longa-metragem que “edita poeticamente” todos os registros audiovisuais de Valéria e da Cia. Vatá nos últimos 20 anos e um CD com músicas das trilhas sonoras da companhia, sempre originais.

As andanças de Valéria foram fundamentais para o que ela mais gosta de fazer: pesquisar. Encontrar novas leituras e conexões entre a cultura popular cearense, o resto do mundo e a contemporaneidade e mostrar o resultado no palco, usando o corpo, a música e a cenografia. “Sempre fomos uma companhia de pesquisa das manifestações tradicionais achando pontes para o contemporâneo. Depois desse tempo fora, quando cheguei, entendi que as tradições caririenses, os reisados, as bandas cabaçais, me conectavam com o mundo. Consigo achar conexões com o que vejo no Japão, na Índia, na África”, diz Valéria.

A primeira montagem, Brasil de Todos os Ritmos, foi resultado de um mergulho na poesia de Patativa do Assaré e Anselmo Vieira, o cordelista que falava de êxodo e seca com bom humor. No palco, Valéria fundiu o xaxado e o baião ao sapateado clássico. Já de saída, a Cia. Vatá mostrou a que veio. Valéria aprendeu os primeiros passos de sapateado com o xaxado marcado do pai e dominou a técnica com as aulas de tap dance nos Estados Unidos. Os primeiros espetáculos da Cia. Vatá tinham até o sapato de sola metálica. “O sapateado ainda é um elemento forte, mas hoje não assume mais o sapato que amplifica sons. Ele inquieta em outros lugares, no corpo, na música”, explica Valéria.

Depois da estreia, a companhia trabalhou em cima da trilogia Bagaceira: A Dança dos Mestres, A dança dos Orixás e A dança dos Ancestrais. Com os três, viajou pelo Brasil e pelo mundo, ganhou prêmios e se consolidou como um grupo fundamental para o cenário da dança cearense. “Valéria criou um teatro, um projeto e trabalha com o que é da gente, com o regional, mas recria isso numa linguagem original. Veja o sapateado que ela trouxe, é uma coisa bem ‘disseram que voltei americanizada’, mas ela torna isso tão nosso! É uma motivação para que outros trabalhos sejam construídos”, elogia David Linhares, organizador da Bienal de Dança Internacional do Ceará, que vê em Valéria uma “mãe parideira de outras companhias”.

Quem

ENTENDA A NOTÍCIA

Depois de anos fora do Ceará, fortalecendo uma bagagem expressiva na dança, sobretudo com o sapateado, Valéria Pinheiro voltou ao ninho há 10 anos. Aqui, fundou a Cia. Vatá, se reinventou como artista e criou uma nova cena

SERVIÇO

MO KY BU ‘STA
Quando: estreia neste sábado, às 20 horas, no Sesc Iracema (Rua Boris, 90c - Praia de Iracema). Fica em cartaz nos dias 4, 10 e 11 de setembro, no mesmo horário e local. Ingressos: R$10 (inteira) e R$ 5 (meia)
Outras info.: 3525 2215.

SÃO BENTO PEQUENO
Quando: estreia neste domingo, no Teatro das Marias (Rua Senador Almino, 233 - Praia de Iracema). Fica em cartaz todos os domingos de setembro, às 20 horas. Ingressos: R$10 (inteira) e R$ 5 (meia)
Outras info.: 3219 4939.

CARTAS DO ASILO e ANOS LOUCOS
Quando: estreia programada para outubro.

Mariana Toniatti
marianatoniatti@opovo.com.br

Fonte: O Povo

Secult Mostra encerra ciclo de Encontros Regionais

O Secult Mostra: I Encontro Regional de Cultura com Gestores Municipais e Sociedade Civil concluiu o ciclo de debates nas 14 macrorregiões. O encerramento aconteceu no município de Icó, abrangendo todo o Vale do Salgado, nesta quinta_feira (01), no Teatro Ribeira dos Icós, com diálogos à gestores e atores da cultura.

Visualizando a realização de uma rede que irá interligar todos os sistemas culturais do país em uma única plataforma cultural, o Sistema Nacional de Cultura, a Secult tem divulgado a importância desse movimento, que parte da consolidação do CPF da cultura ( Conselho, Plano e Fundo de Cultura) dos municípios, como estrutura básica, para que se estabeleça o repasse de recursos do governo federal.

Dentro da perspectiva de desenvolvimento do campo da cultura, a secretaria adjunta Maninha Moraes, pontua que, “esse é um tema de constante diálogos, que permeia a intersetorialidade das políticas públicas, sendo este, um momento de reflexão – de estabelecermos a cultura como prioridade e de termos a consciência da importância de trabalharmos e caminharmos na direção do desenvolvimento socioeconomico do Estado, por meio da instrumentalização da cultura”. A Secretaria conclui que: “esse caminho a percorrer, faz parte do entendimento dos gestores das três esferas do governo federal, estadual e municipal – incluindo a realização do CPF da cultura(Conselho, Plano e Fundo da Cultura), por parte dos municípios, que passa a ser a identificação e a ponte para que estejam interligados ao SNC - nivelando seus sistemas culturais, de acordo com que as diretrizes do MINC”.

A Secretaria da Cultura de Icó, Jequélia Maria Alcântara, afirma que a administração municipal tem um forte compromisso com a cultura, e que a partir dessa compreensão, o município busca o fortalecimento cultural no diálogo proposto pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará , ”porque sozinhos os municípios não conseguem articular a cultura - é preciso que se estabeleça essa parceria”. Espera a Secretária, que o governo federal e do estado venham dar apoio as ações integradas que estejam a altura do nosso patrimônio cultural.

Concluído o ciclo de diálogos nas 14 macrorregiões do Estado, a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará(Secult) disponibiliza no site da Secretaria as informações sobre as Conferencias Municipais de Cultura para que, à partir desse momento, os municípios se apropriem da temática do desenvolvimento de seus sistemas culturais, que seguiram ao encontro do Sistema Nacional de Cultura.

Sobre o Secult Mostra:

O Secult Mostra: I Encontro Regional de Cultura com Gestores Municipais e Sociedade Civil, objetiva apresentar à sociedade e gestores culturais, as ações da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), abrindo assim, um espaço de diálogos e discussão para a construção das políticas públicas culturais, de forma compartilhada, visualizando a adequação dos sistemas municipais para a implantação do Sistema Nacional de Cultura, alinhada com as diretrizes do Ministério da Cultura.

Saiba mais sobre o SNC:

Sistema Nacional de Cultura é um Instrumento de articulação, gestão, informação, formação, fomento e promoção das políticas públicas de cultura com participação e controle da sociedade civil, envolvendo três poderes públicos. Sendo o principal articulador federativo do Plano Nacional de Cultura (PNC) que estabelece mecanismos de gestão compartilhada entre entes federados da sociedade civil. (fonte MINC)

Pontos de Cultura presente:
Ponto de Cultura Fundação Social Raimundo Fagner.
Ponto de Cultura Associação do Desenvolvimento Cultural de Felizardo – ADECOF
Ponto de Cultura Associação de Apoio ao Protagonismo Juvenil – APJ
Ponto de Cultura Centro Social de Orós
Ponto de Cultura Maria Bonita
Ponto de Cultura Criativa Musical

Fonte: Secult-Ce

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Juazeiro do Norte sedia encontro sobre cidades históricas e turismo religioso

Entre os dias 1º e 3 de setembro, ocorrerão em Juazeiro do Norte o IV Encontro das Cidades Históricas e Turísticas e IV Encontro do Grupo de Trabalho do Turismo Religioso. Os encontros têm a chancela do Ministério do Turismo (MTur) e o apoio da Secretaria do Turismo do Ceará (Setur). Este ano, o evento será realizado simultaneamente com o GT de Turismo Religioso numa deferência especial a Juazeiro, por conta dos 100 anos de emancipação política e o fato de se constituir em um dos principais polos de romarias do Brasil. Vários temas serão debatidos. Um deles é a criação da Associação das Cidades Históricas e Turísticas. Porém, a programação completa do GT ainda está sendo definida. A associação se trata de uma entidade jurídica destinada à defesa dos interesses das cidades históricas e turísticas que conta com todo o apoio do Iphan.

O Encontro Nacional das Cidades Históricas e Turísticas, composto por gestores públicos e privados de cidades históricas com vocação para o desenvolvimento do turismo, tem o objetivo principal de debater temas de interesse comum, elaborar propostas e socializar experiências para o desenvolvimento do turismo nas cidades históricas, possibilitando a discussão de estratégias conjuntas de enfrentamento das dificuldades do setor. Com isso, se espera avançar nas políticas públicas que visem o desenvolvimento econômico das cidades históricas por meio da atividade turística, construindo estratégias de ações conjuntas entre turismo e cultura e assim desenvolver o Turismo Cultural no País.

Já o Grupo de Trabalho de Turismo Religioso vem aprofundando as discussões sobre o Turismo Religioso desde fevereiro de 2010, por considerar um segmento com grande oportunidade de diversificação da oferta turística brasileira. Desde então, ocorreram três encontros do Grupo em municípios diferentes: Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP e Brasília/DF. Participaram desses encontros representantes de diversas regiões do Brasil que também debateram temas de interesse comum e socializaram experiências para o desenvolvimento do turismo nos destinos com vocação para o Turismo Religioso, discutindo estratégias conjuntas de enfrentamento às dificuldades do setor para a qualificação dos serviços turísticos por elas prestadas.

Dentre as ações pensadas pelo MTur para o evento está o estímulo à atividade turística no município, visando e atuando no ordenamento, estruturação e a qualificação do segmento de Turismo de Cultural, com vistas a atender ao Programa de Estruturação dos Segmentos Turísticos. Segundo a Prefeitura do Município, a intenção é inserir Juazeiro cada vez mais no âmbito do turismo interno. Além disso, haverá a perspectiva de buscar visitantes internacionais por meio de pacotes das agências que trazem turistas de países do exterior para peregrinação em vários lugares do Brasil. Subsídio das informações: Secretaria Nacional de Políticas de Turismo e da Prefeitura de Juazeiro do Norte.

Assessoria de Comunicação da Setur
Carmen Ines Matos Walraven ( ascom.setur@setur.ce.gov.br | 85 3101-4669 / 3101-4661 / 3101-4654)
Twitter: @seturceara

Novos contos de Nilto Maciel

Enquanto apresenta seu mais recente trabalho, Nilto Maciel já produz um novo título com foco em Baturité, sua cidade natal (MARCUS CAMPOS)

Considerado um dos escritores mais atuantes do cenário literário da Cidade, Nilto Maciel lança novo livro hoje no Sesc Emiliano Queiroz. Luz vermelha que se azula reúne contos inéditos do autor escritos nos últimos cinco anos, além de guardados que agora vêm a público.


“O que eu tinha que escrever, eu já escrevi”, afirma Nilto Maciel, 66. O escritor cearense publicou duas dezenas de livros desde a estreia em 1974 com os contos de Itinerário. Mas, apesar da sua avaliação, Nilto não parece ter dado o serviço por acabado. Ele lança Luz vermelha que se azula, no Sesc Emiliano Queiroz, em mais uma edição do projeto Bazar das Letras. Na ocasião, o autor será entrevistado pelo também escritor Roberto Vazconcelos e deve falar sobre sua experiência na década de 1970 com o jornal literário O Saco, dos 25 anos em que morou em Brasília e de sua produção mais recente.

Há quase 10 anos de volta a Fortaleza – retorno proporcionado pela aposentadoria do funcionalismo público –, Nilto é um dos escritores mais atuantes do cenário literário da Cidade. Escreve prefácios e orelhas, opina sobre originais e diz se corresponder diariamente com ao menos 20 pessoas diferentes. Seus dias são dedicados à sua escrita e à leitura de poemas, contos e romances enviados de todo o Brasil, ansiosos por críticas, geralmente publicadas no blog que edita (niltomaciel.blog.uol.com.br).

Nos momentos em que não está agarrado aos livros ou escrevendo no computador, pode ser encontrado em algum bar do Benfica, acompanhado dos amigos escritores Pedro Salgueiro e Raymundo Netto, e, mais raramente, no Clube do Bode (Flórida Bar) ou no Ideal Clube. Mas sempre mantendo certa independência. “Não gosto de participar de grupos, porque é uma ciumeira danada”, considera. Nas duas vezes nas quais foi convidado para integrar academias literárias, uma em Brasília (Academia de Letras do Brasil), outra por aqui (Academia de Letras e Artes do Nordeste), foi incluído à revelia no quadro dos acadêmicos

O livro Luz vermelha que se azula é o seu nono volume de contos. Vencedor do Prêmio Moreira Campos, da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult), reúne textos dos últimos cinco anos, escritos após o lançamento de A Leste da Morte (2006), afora alguns outros que estavam engavetados há pelo menos duas décadas e que agora vêm a público. Dividido em três partes, a obra tem seus textos distribuídos entre contos “acolhidos”, “lembrados” e “engendrados”.

Os primeiros, como explica o próprio autor no prefácio, contos “ditados pelo inconsciente”, inspirados em imagens que emergem na mente do escritor; em seguida, textos enredados nas memória da infância e adolescência de Nilto, escritos a partir de rememorações suas; por último, uma série de pequenos contos sobre personalidades históricas, tais como Charles Darwin, Nero, Papa Leão X, Hitler – estes deveriam integrar um único volume, mas são publicados agora depois de a primeira parte dos “perfis” ter sido publicada no livro Pescoço de girafa na poeira, em 1999.

“Escrevo e leio, é só o que eu faço hoje”, conta. Além da conclusão de Luz vermelha que se azula, ele revela estar trabalhando atualmente em outro livro de contos e em mais um romance. Não bastasse, está prevista a reedição de seu Os Guerreiros de Monte-Mor, romance histórico publicado em 1988 que traz no título o antigo nome de sua cidade natal, Baturité.

SERVIÇO

LUZ VERMELHA QUE SE AZULA
O quê: Lançamento do novo livro do escritor Nilto Maciel
Preço do livro: R$ 20
Outras info.: (85) 3452 9032

Quem

ENTENDA A NOTÍCIA

Nilto Maciel é cearense de Baturité. Formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará, criou, na década de 1970, ao lado de outros jovens escritores, a revista O Saco. É autor de vários títulos, recebendo diferentes prêmios.

BIBLIOGRAFIA

Itinerário (contos, 1974)

Tempos de Mula Preta (contos, 1981)

A Guerra da Donzela (novela, 1982)

Punhalzinho Cravado de Ódio (contos, 1986)

Estaca Zero (romance, 1987)

Os Guerreiros de Monte-Mor (romance, 1988)

O Cabra que Virou Bode (romance, 1991)

As Insolentes Patas do Cão (contos, 1991)

Os Varões de Palma (romance, 1994)

Navegador (poemas, 1996)

Babel (contos, 1997)

A Rosa Gótica (romance, 1997)

Vasto Abismo (novelas, 1998)

Pescoço de Girafa na Poeira (contos, 1999)

A Última Noite de Helena (romance, 2003)

Os Luzeiros do Mundo (romance, 2005)

Panorama do Conto Cearense (ensaio, 2005)

A Leste da Morte (contos, 2006)

Carnavalha (romance, 2007)

Contistas do Ceará: d’A Quizena ao Caos Portátil (ensaio, 2008)

Contos reunidos – volume I (2009)

Contos reunidos – volume II (2010) 

Fonte: O Povo

Instituto de Arte e Cultura do Ceará lança editais de incentivo às artes

Dominiq, espetáculo apresentado no Quinta com Dança de Março/2011. Foto: Marina Cavalcante.

A partir de 01 de setembro, quinta-feira, o Instituto de Arte e Cultura do Ceará – IACC – estará recebendo projetos a serem contemplados em editais culturais e de ocupação. A seleção conta com o suporte e o aval da Secretaria de Cultura do Ceará – Secult.

Para se inscrever, é necessário que os interessados atendam a todos os requisitos dispostos nos editais e preencham os formulários disponíveis no site do Dragão do Mar. Os documentos serão recebidos até o dia 30 de setembro na Diretoria de Ação Cultural – DIRAC, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, de segunda a sexta-feira, de 8h30 às 12h e 13h30 às 18h. 

Editais
Os editais culturais são lançados com o intuito de estimular as artes, através da música, do teatro, da dança e da literatura, em oito diferentes categorias: Teatro da Terça, Contação de Histórias, Passarela das Artes, Nas Ruas do Dragão do Mar, Domingo Musical, Sons do Ceará, Quinta com Dança, Dragão do Mar Literário.

Grupos, companhias e artistas que tiverem suas propostas aprovadas garantem participação na agenda de eventos do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e podem contar com incentivo financeiro para honrar as despesas decorrentes das apresentações, de acordo com os termos previstos no edital.

Os editais de ocupação visam abrir as portas do Teatro do Dragão do Mar para artistas de música, dança e artes cênicas que procuram espaço para divulgar seus trabalhos. Esse contrato é uma espécie de aluguel do teatro, em que será paga a taxa de uso, mas o apurado da bilheteria é destinado aos contratadores, conforme regulamentações e tributações fiscais. 

Serviço: Editais do IACC/Secult – inscrições de 01 a 30 de setembro. Download de editais e formulários aqui. Entrega de documentação: na recepção da Diretoria de Ação Cultural / DIRAC, de segunda a sexta-feira, nos horários de 8h30 às 12h e 13h30 às 18h. Mais informações: (85) 3488-8608.

Fonte: Dragão do Mar

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Mito do herói jangadeiro

Sociedade Cearense Libertadora, fundada após a greve de 1881. O Dragão do Mar é o segundo, de pé, da direita para esquerda
Há exatos 130 anos, acontecia a Greve dos Jangadeiros, movimento que antecipou em quatro anos a abolição dos escravos no País. Uma história de lutas e mitos até hoje devassada por historiadores
Em 30 de agosto de 1881, há precisos 130 anos, era deflagrada a Greve dos Jangadeiros, liderada pelo pescador Francisco José do Nascimento, então conhecido como Chico da Matilde. O jangadeiro de Aracati, alcunhado de Dragão do Mar, foi um dos responsáveis pela mitificação em torno do pioneirismo do processo abolicionista cearense que, até hoje, divide opinião de pesquisadores.

Desde então, muita literatura vem sendo produzida em torno de o movimento que fez do Ceará a primeira província da República Velha a abolir a escravidão. Para recordar esse momento histórico, o Caderno 3 conversou com o professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Gleudson Passos, doutor em História Social, e responsável pela pesquisa biográfica da vida do Dragão do Mar, para o Memorial da Cultura Cearense.

"Em 25 de março de 1884, o Ceará se torna a primeira província a abolir seus escravos e Chico da Matilde será bastante atuante no movimento abolicionista local. Mas é válido ressaltar que aqui tínhamos poucos cativos. Grande parte eram trabalhadores urbanos, negros de ganho. Na verdade, grande parte da mão de obra explorada, naquele momento, era de descendentes indígenas que trabalhavam nas lavouras de algodão, nas atividades agropecuaristas desde o ciclo do gado, no século XVIII, já frutos de mestiçagem. Essa é uma das controvérsias: movimento abolicionista forte, sim, mas para libertar quem? Pouquíssimos escravos. Começa por aí".

Segunda greve
Mas, o que, de fato, teria representado a greve dos jangadeiros? Quais suas narrativas? E os mitos gerados em torno dela? Qual a participação de Chico da Matilde entre tantas comunidades pesqueiras existentes no litoral cearense que lutavam, e lutam, para defender seus direitos? As respostas são muitas e, nem sempre, coadunam com os registros que estão nos livros de história.

"Um dos fatos importantes é que o Francisco Nascimento não foi o primeiro jangadeiro a tomar iniciativa da greve aqui. No final de janeiro de 1881, o José Napoleão havia encabeçado uma greve de três dias que paralisou o Porto de Fortaleza. Infelizmente, ele é pouco falado, pouco mencionado na historiografia cearense. Ele (José Napoleão), enquanto trabalhador do mar, e negro liberto, não era integrado ao Movimento Abolicionista, mas fez uma greve que envolveu catraieiros, condutores de pequenas navegações, jangadeiros, para ninguém fazer o deslocamento de escravos", destaca o professor.

Mito do herói jangadeiro
Para justificar o lapso histórico e a criação do mito, o pesquisador Gleudson Passos explica que, somente após participar do Congresso Abolicionista no Maranguape, Chico da Matilde, sensibilizado com a causa, adere ao movimento. "Ele era segundo prático, função que cabia conduzir navios de alto mar até a ancoragem, para não ter perigo de encalhar. O movimento abolicionista local precisava de um herói do povo para poder enaltecer o movimento. Pegou o Chico da Matilde, começou a incorporá-lo à luta, e a participação dele acabou oxigenando o movimento abolicionista local. Poucos meses depois, foi feito um traslado do Ceará ao Rio de Janeiro, em um navio negreiro chamado ´Espírito Santo´, que foi puxando uma jangada batizada de ´Liberdade´, e com o Chico da Matilde junto a ela".

Com tamanho apelo, e recebido pelo movimento abolicionista que fervilhava na Capital do Império, Francisco foi ovacionado pela corte, imprensa, intelectuais. E é nesse contexto social e político que o escritor Aluísio de Azevedo cunha o epíteto de Dragão do Mar para rebatizar Chico da Matilde, dando origem, a partir daí, ao famoso "mito do herói jangadeiro".

"É importante dessacralizar os mitos, não reforçar mais a ideia de heróis, mas entender a sociedade da época. Os reais interesses que existiram dentro do Movimento Abolicionista que, depois, irão favorecer comerciantes locais ligados aos ingleses, que se beneficiarão com a mudança da Monarquia para a República e irão compor a oligarquia aciolina. Outra questão é entender o Dragão do Mar e os trabalhadores da época, que encamparam não só a segunda greve, mas, também, a primeira (greve). Era a expressão de trabalhadores do mar que não aceitavam mais a exploração dispensada aos escravos e a eles. Há, depois disso, uma série de outros movimentos que vão ocorrer. Muitos comerciantes portugueses viviam disso, então, não é 100% que não houve mais tráfico de escravos por aqui. Aquela coisa: os cativeiros foram abolidos, mas os cativos, não. A província cearense aboliu seus cativos sem nenhum plano, sem nenhum projeto de inserção na vida social e econômica do País. Eles ficaram totalmente alheios à cidadania".

Depois das luzes apagadas
Mas, e o que acontece depois que a província do Ceará liberta seus cativos? Como ficam os poucos ex-escravos daqui? E os comerciantes que resistiram à causa? Para onde foi nosso destemido caboclo do mar? Infelizmente, como quase todos os mártires que simbolizam uma causa, o Dragão do Mar morreu em 1914, aqui em Fortaleza, pobre, esquecido e sem glórias.

"O campo da História Social tem feito pesquisas a respeito das relações de exploração, da realidade da escravidão no Ceará. Esse mito de dizer que o Ceará é a Terra da Luz, que todos os escravos foram libertos e viveram felizes para sempre, isso não existiu. A gente sabe que a exploração do trabalho escravo aqui foi relativamente expressiva nas serras, nos cafezais de Baturité, Maranguape, aqui em Fortaleza, a documentação da época mostra isso. Porque o processo colonizador aqui se deu basicamente na pecuária, atividade que não demandava tantos escravos. Se fosse a cana-de-açúcar, talvez".

E finaliza. "Manuseando documentação da época, não vemos a participação de Francisco Nascimento e, até mesmo, do movimento abolicionista local, no cerne da abolição de 1888. O Movimento Abolicionista Cearense, após 1884, fica na trincheira da imprensa local, mostrando que o Ceará é mais adiantado que as províncias do sul e do norte, essas coisas. Mas o Chico da Matilde é praticamente ofuscado. Nos artigos produzidos sobre o Movimento Abolicionista local, em 97% dos casos, só as elites que participaram são contempladas. O Dragão do Mar, praticamente, só vai ser resgatado a partir das décadas de 30, de 40, e, ainda, sobre uma série de debates se ele seria herói ou não", conta.

NATERCIA ROCHAREPÓRTER

A escrita da precisão


Um dos principais nomes da arte do conto (numa terra fértil em contistas), Nilto Maciel lança seu novo livro, reunião de histórias inéditas, entre guardados e novas produções

Nascido em Baturité, o escritor Nilto Maciel é autor de uma obra que ganha intensidade com o tempo. Não que os feitos do passado sejam poucos. Ainda em 1977, ele organizou, com Glauco Mattoso, uma antologia do conto marginal "Queda de Braço". Contudo, ao invés de muitos veteranos que perdem o fôlego e se entregam ao ocaso de obras repetitivas, Maciel está disposto a arriscar-se, não só em contos e romances novos, mas no trabalho como blogueiro (em que divulga o trabalho de novos e velhos autores, não devidamente apreciados) e como antologista (vide a indispensável "Contistas do Ceará: D´A Quinzena ao Caos Portátil", de 2008).

Seu novo livro, a coleção de contos "Luz vermelha que se azula", reúne mais de 60 histórias. A maior parte é composta por novas produções do autor, escritas (e datadas) entre 2005 e 2007 - num ritmo, segundo o próprio Nilto Maciel, "de mais ou menos um novo conto por semana".

A outra parte é formada por textos que ficaram guardados na gaveta do autor, por algumas décadas, esperando uma reavaliação sua - ou que a sorte da literatura, da transformação da escrita de Nilto Maciel lhes conferisse novos sabores.

Um dos ganhadores do Prêmio Literário para Autor (a) Cearense, da Secretaria da Cultura do Estado (Secult), na categoria Moreira Campos (contos), o livro será lançado, hoje, às 19 horas, na galeria do Teatro Sesc Emiliano de Queiroz. É que o autor é o convidado do dia do projeto Bazar das Letras, programação mensal dedicada a literatura, que tem recebido, sistematicamente, autores brasileiros (sobretudo cearenses) para falar de suas obras.

Prosa
Nilto Maciel dividiu seu livro em três partes. Na nota de abertura, ele alega que "a sequência dada a eles não tem importância" (ao leitor cabe desconfiar dos ficcionistas: por que, então, a ordem não é alfabética ou cronológica, por exemplo? Que padrão os ordena?). Contudo, o escritor deixa claro: as três partes, como se tratasse de livros distintos, são enlaçados a partir da origem e da natureza das histórias neles presentes.

A primeira parte agrupa o que Maciel define "contos acolhidos", aqueles que, para o autor, chegam por inspiração, numa relação algo sagrada com certo inconsciente coletivo. Dentre estes, destaque para "Diálogo de protagonistas", que narra uma disputa entre Deus e o Diabo pelo direito de arbitrar quanto ao destino dos homens; e "Onde fica o inferno", fábula que recupera a crueldade natural - e um tanto esquecida - ao gênero.

A segunda, os "contos de memória", contorções das lembranças de Nilto Maciel. "Solano Lopez para iniciantes" retrata o despertar erótico, permeado pela misoginia característica dos meninos, e sintetiza bem o teor desta parte do livro, em que o sonho e a ficção redimensiona o que foi lembrado.

Por fim, o escritor envereda pela história, num vai e vem entre personagens e episódios que tornaram-se célebres e a ficção, que os reacomoda, que os ressignifica e os reinventa.

CONTOS
"Luz vermelha que se azula"
Nilto Maciel
Expressão gráfica
2011
212 páginas
R$ 30
Lançamento, no Bazar das Letras, às 19h, na
Galeria Sesc Emiliano Queiroz (Av. Duque de Caxias, 1701, Centro). Contato: (85) 3452.9032

FIQUE POR DENTRO
Bazar das Letras
Criado há pouco mais de três anos, o projeto Bazar das Letras é promovido pelo grupo de leitura Abraço Literário, mantido pelo Sesc-CE. A proposta é valorizar a literatura (sobretudo a produção cearense) e temas do universo da produção literária, por meio da aproximação entre o escritor e o leitor. O programa funciona como uma espécie de entrevista aberta com um autor, com a

participação da plateia. Mais de 40 escritores já passaram pelo projeto, conduzido por Carlos Vazconcelos, que orgulha de não ter repetido nenhum nome.

DELLANO RIOS
EDITOR

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Resistência popular e abolição

Estátua do pescador Dragão do Mar: símbolo dos ideais abolicionistas no Ceará é tema de debate, que reunirá estudiosos de sua conversão em herói local
VIVIANE PINHEIRO

Movimento de pescadores do século XIX, protagonizado por Chico da Matilde, o Dragão do Mar é tema de debate, na reitoria da Uece

Às vésperas de completar 130 anos da famosa greve dos jangadeiros no Ceará, ocorrida em 30 de agosto de 1881, fato que fez o movimento abolicionista do Ceará entrar para a história com ares de vanguarda, os professores do curso de Mestrado Acadêmico em História (MAHIS), juntamente com profissionais do curso de História da Universidade Estadual do Ceará (Uece), e convidados, realizam mesa redonda para debater o assunto.

Com o tema "Greve dos Jangadeiros: História, Mito e Memória", três pesquisadores, Gleudson Passos, Hilário Ferreira e Patrícia Xavier, trazem à tona o período que destacou a figura de Francisco José do Nascimento, também conhecido como "Chico da Matilde", como ícone da emancipação dos cativos da antiga província do Ceará, dentro do contexto brasileiro do final do século XIX, no fim do Império. O bravo empenho de bloquear o Porto de Fortaleza, impedindo o tráfico de escravos, rendeu ao jangadeiro de Aracati o cognome de "Dragão do Mar".

Na abertura do encontro, que acontece hoje, 29, às 18h30, no auditório Paulo Petrola, na Reitoria da UECE, o grupo de dança da Comunidade Quilombola, de Alto Alegre, faz apresentação de Maculelê e, após a mesa redonda, a professora Raquel Xavier relança o livro "Dragão do Mar: a construção do herói jangadeiro", publicado pela Coleção Outras Histórias, do Museu do Ceará, em março deste ano.

"Vamos discutir o Ceará enquanto vanguarda, analisar os jangadeiros cearenses como heróis da abolição. Uma narrativa que foi construída pelas elites abolicionistas, que tinham interesses pontuais com o comércio da Inglaterra, como, por exemplo, os irmãos Amaral, que eram comerciantes, e o jornalista João Cordeiro que, além de comerciante, era editor do jornal "O Libertador", diz o organizador do encontro, Gleudson Passos.

Pioneirismo
Em 1884, o Ceará entrou para a história como a primeira província brasileira a abolir a escravidão, quatro anos antes do 13 de maio de 1888, data da abolição brasileira. Esse acontecimento, iniciado com o Movimento Abolicionista Cearense, de 1879, teve como ponto de partida a greve dos jangadeiros deflagrada em 1881. O movimento visava impedir o transporte de escravos nas jangadas para os navios negreiros.

"Também vamos debater a realidade após a escravidão, porque, na verdade, os escravos não tiveram nenhuma condição de adaptação à nova realidade. É fundamental que os cearenses tenham conhecimento da real história dessa greve que, na verdade, não foi a primeira, mas a segunda greve", destaca o professor Passos.

Mais informações
Mesa-redonda - "Greve dos Jangadeiros: História, mito e memória". Às 18h30, no Auditório Paulo Petrola, na Reitoria da Universidade Estadual do Ceará - Uece (Avenida Dedé Brasil, 1700, Itaperi). Contato: (85) 3101.9610