sexta-feira, 3 de junho de 2011

Bonecas do Cariri em Cuba

Entre linhas, agulhas e tecidos, mulheres artesãs ressignificam as próprias vidas e são referência em pesquisa

À SOMBRA DA MANGUEIRA, as bonequeiras costuram personagens de pano que contam as próprias histórias das mulheres. A experiência foi destaque em congresso internacional
Crato Bonecas fabricadas neste Município são apresentadas no Congresso Ibero Americano de Psicodrama, realizado em Cuba. A iniciativa foi da psicóloga Elisete Leite Garcia, uma cratense residente em São Paulo, que transformou as bonecas, um brinquedo de infância, numa fonte de pesquisa científica de Psicodrama e Sociodrama, originando o Tatadrama.

Esta metodologia tem como fundamento, segundo Elizete, o pensamento atribuído a Platão, segundo o qual "a pessoa pode descobrir mais sobre os outros em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa".

As mulheres cubanas, segundo Elizete, ficaram encantadas com o trabalho das cratenses, o que é traduzido em cartas afetivas que recebeu das cubanas e também das bonecas que ganhou, feitas após o encontro por elas. Uma delas, a cara da própria psicóloga.

A outra boneca, uma linda negra de cabelos louros, será levada para as mulheres do Crato, as mesmas que enviaram seus personagens de panos coloridos para Havana, junto com bilhetinhos carinhosos. "A história das bonequeiras do Crato que iniciaram seu trabalho artesanal na sombra de um frondoso pé de manga no quintal da casa de uma delas emocionou as cubanas", afirma Elizete.

A interação foi maior quando a psicóloga apresentou a técnica a um grupo de psicodramatistas formados por psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e educadores, que fizeram questão de acompanhar o seu trabalho e participar de sua oficina com as bonecas, durante a programação do congresso em Cuba. Eles entenderam que a psicóloga usou as bonecas do Crato como objeto intermediário, um termo criado pelo psicodramatista Jaime Rojas Bermúdez. Foi o mesmo que introduziu este conceito e o utilizou, especialmente trabalhando com fantoches, ainda na década de 60, em hospitais psiquiátricos de sua época.

Mais que brinquedos de criança, as bonecas feitas pelas artesãs do Crato são instrumentos de terapia de grupo por meio do Psicodrama
FOTOS: ANTÔNIO VICELMO
Ponte
O objeto intermediário, de acordo com Elizete, é a "ponte" entre o personagem e o ser, no caso, as bonecas. Rojas Bermúdez estabeleceu as características que um objeto intermediário deve possuir como existência, maleabilidade, adaptabilidade, identificabilidade, entre outros.

Neste projeto, Elizete teve a ajuda de duas outras psicodramatistas, que trabalharam como auxiliares: Rafaella Calentano e Carolina Cintra. Elas interpretaram bonecas cratenses, intervindo com as mulheres cubanas. Mais do que uma experiência enriquecedora profissionalmente, a psicóloga ficou encantada mesmo com a troca afetiva entre as mulheres da região do Cariri e de Cuba.

"No plano real, elas não se encontraram. Mas por meio de bilhetes, cartas e até presentes que umas enviaram às outras, digo que foi um encontro de almas. O que mais me deixa feliz e enriquecida é saber que dois mundos tão parecidos e tão diversos se juntaram em seus amores, dores, sabores, risos e dramas", afirma a psicodramatista. Tão perto e tão longe. Em Cuba, são mulheres vivendo sob o julgo do duro regime ainda comandado pela família Castro. Um dos poucos lugares onde as mesmas têm liberdade de expressão é no local em que foi realizado o congresso, na Casa de Orientação da Mulher e da Família, localizado na Praça da Revolução, um patrimônio cultural do povo cubano

Já as mulheres cratenses realizam seu trabalho, no sertão nordestino, com sua simplicidade e sabedoria da roça, tecendo suas tramas e dramas debaixo de uma mangueira.

Trata-se de um grupo com potencialidades adormecidas, que foram despertadas. "Elas resgataram a identidade, o papel profissional e o valor como mulher bonequeira e artesã", destaca Elizete, complementando: "E ainda ganharam uma nova fonte de renda familiar".

Antônio Vicelmo
Repórter

MAIS INFORMAÇÕES Mulheres Bonequeiras do Crato, Av. Perimetral, 235c, bairro São Miguel, Região do Cariri
Telefones: (88) 9911.6617/ 8809.6838

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Esporte-17 medalhas no Norte/Nordeste de Karatê para o Vale Acaraú


CEARÁ

Depois de ter conquistado por 12 vezes seguidas o título de Campeão Norte/Nordeste fora de casa a FCKE antiga FCKI, representante cearense do Karatê Esportivo sagrou-se Campeã pela 13ª vez dentro de casa, pois no último final de semana aconteceu em Fortaleza(Ce) o III Campeonato Norte/Nordeste de Karate Esportivo conquistando 120 medalhas de ouro. Participaram também os estados do Pará, Bahia e Pernambuco.

VALE DO ACARAÚ

A AAKC-Karatê representante do Vale Acaraú dentre mas de 600 atletas que participaram do evento conquistou 17 medalhas sendo 3 medalhas de Ouro, 3 medalhas de Prata e 11 medalhas de Bronze. Nesta competição contamos com o apoio da Prefeitura Municipal de Bela Cruz, de atletas e pais de atletas que custearam a nossa participação e de alguns patrocinadores individuais. Aproveitamos a oportunidade para agradecer a todos que colaboram e parabenizamos os atletas pela bela participação e conquistas.

Veja o Quadro de Medalhas da AAKC logo abaixo:
PRÓXIMO DESAFIO

No próximo dia 19 de Junho a cidade de Cruz(Ce) se tornará a capital cearense do Karatê Esportivo, pois sediará a III Copa Estadual Vale do Acaraú a qual os organizadores tem a expectativa de receber 300 atletas de todo o Estado do Ceará.
A competição acontecerá mais precisamente no Ginásio da Vila Olímpica a partir das 8:30h da manhã se estendendo até a tarde, com entrada franca sendo arrecadado alimentos não perecíveis para famílias carentes.
Será um dos maiores eventos esportivos já realizados na região.

Literatura-Peças da imaginação

O escritor cearense Nilto Maciel resenha a coletânea O Cravo Roxo do Diabo e escreve sobre a recente produção fantástica da literatura cearense


Nilto Maciel
ESPECIAL PARA O POVO

Apesar de a literatura, seja ela oral ou escrita, ter se originado da necessidade de um homem contar a outros o não-visto, o não-ouvido, o não-sabido, o não-sentido, o não-explicável ou o inexplicável, demorou muito até os estudiosos se debruçarem sobre a literatura do mistério, do estranho, do ilógico, do irracional, e a aceitarem como uma das vertentes da arte. Antes de Todorov, ninguém se ocupou tanto dela. Ninguém se preocupou em lhe dar nome certo: literatura fantástica. Nos compêndios de história liam-se apenas expressões como “fulano tem imaginação prodigiosa”, “sicrano vai da fantasia mais pueril ao...”. Passados anos e estudos, a literatura fantástica ainda é vista com certo desdém. Como o são a literatura policial, a literatura erótica, a literatura infantil e outras.

Esse tipo de literatura teve e tem cultores no Ceará. Porém, a maior parte desse acervo se encontra desaparecida, imersa na poeira dos séculos ou mesmo nas prateleiras mais inatingíveis de bibliotecas de outros mundos, como a de Babel, Alexandria e New York.

Nomes do Ceará
Alguns nomes muito conhecidos podem ser lembrados aqui como cultores do fantástico no Ceará. Como o de Oliveira Paiva, cujos contos estamparam-se em jornais quase todos em 1887, reunindo-se em livro somente em 1976.
Entre 1855 e 1908 viveu Emília Freitas, autora do primeiro romance fantástico da Literatura Brasileira. Publicado em 1899, A Rainha do Ignoto só foi redescoberto recentemente, pelo pesquisador e crítico Otacílio Colares, que escreveu o prefácio da 2ª edição, datada de 1980. A obra apresenta-se “com os apelos ao imponderável, por facilidade de alguns acoimado de espírita, quando mais não foi, nas intenções de sua autora, que uma fuga propositada ao passado, ao que se convencionou denominar – romance gótico, embora partindo do regional mais autêntico.”

Histórias de ancestrais
Nos meados do século XX, surgiu entre nós outro cultor do fantástico: Moreira Campos. No artigo Afinal, os cães veem coisas?, Linhares Filho pergunta: “Qual a razão do interesse maior do fantástico em Moreira Campos, se tal categoria não constitui uma constante do escritor?” E responde: “Justamente o fato de, sendo ele um autor neo-realista às vezes, outras vezes neo-naturalista, apresentar-se cioso da verossimilhança, adotando, nos raros contos em que abriga o fantástico, uma postura que mais se inclina para o estranho do que para o maravilhoso”.
Depois vieram José Alcides Pinto, o criador de dragões e demônios; Juarez Barroso, o adestrador de cururus e cavalos; Airton Monte e seus loucos; Carlos Emílio e suas viagens intermináveis; Gilmar de Carvalho e os tipos do sertão e da cidade; Nilto Maciel; e agora o pessoal mais novo, como Tércia Montenegro, Jorge Pieiro, Dimas Carvalho, Pedro Salgueiro e outros.

A literatura fantástica seria muito mais rica, se a humanidade tivesse conhecido a escrita há mais tempo. Assim, teríamos relatos ou histórias de nossos ancestrais de cinco, dez, vinte mil anos atrás. De animais desaparecidos, criaturas monstruosas, seres humanos perdidos nas matas da Chapada do Araripe, das serras da Ibiapaba, Meruoca, Uruburetama, Maranguape, Maciço de Baturité. Cabe a nós, herdeiros da memória de nossos antepassados, a recriação daqueles mundos.

O cravo roxo do diabo é um volumoso compêndio do que se pode chamar pelo nome de fantástico. Não se tem notícia de obra tão abrangente no Ceará e mesmo no Brasil. Coletâneas de contos fantásticos há muitas. No entanto, nesta coleção há muito mais do que narrativas curtas de mistério, horror, espanto. Salgueiro arrancou do fundo da terra – como um coveiro imortal, sempre a cavar o chão, embora enterre os mortos (seria melhor dizê- lo, pois, arqueólogo) – peças literárias (nem sempre douradas) criadas pela banda sórdida da imaginação humana.

Nilto Maciel é escritor, autor, entre outros, do romance A Rosa Gótica

Fonte: O Povo

Literatura-Arquitetura da alma

Obra-prima da escritora Natércia Campos, o romance "A Casa" ganha sua terceira edição. Livro será lançado, hoje, às 19h30, na Academia Cearense de Letras


O mercado editorial cearense nem sempre faz justiça com os escritores da terra. Se publicar ainda é uma batalha árdua, reeditar é talvez ainda mais difícil. Daí a importância do reaparecimento de uma obra como "A Casa", de Natércia Campos (1938 - 2004), lançado, originalmente, em 1997, que chega a sua terceira edição. O livro será lançado, às 19h30, na Academia Cearense de Letras.

O romance é considerado, por parte da crítica, como a obra-prima da escritora - ela mesma, uma das principais personagens de nossa história literária e filha de outro gigante das letras, o contista Moreira Campos. O projeto foi laureado na categoria Reedição (Prêmio Otacílio de Azevedo), do primeiro edital Prêmio Literário para Autor (a) Cearense, da Secretaria da Cultura do Estado Ceará (Secult).

O ponto mais alto
A nova edição de "A Casa" traz um texto de apresentação de Sânzio de Azevedo, escritor, crítico literário e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). "Penso que todos são unânimes em considerar o ponto mais alto da obra de Natércia Campos o romance ´A Casa´, que recebeu o Prêmio Osmundo Pontes de Literatura no ano de 1998. Nada mais justo do que se reeditar o livro, tal como ela desejava: com todas as epígrafes (que fazem parte da estrutura do livro), a página de abertura escrita pela autora e a dedicatória ao pai, Moreira Campos", escreve o pesquisador.

"Angela Guitiérrez, que havia considerado ´A Casa´, ´um dos mais belos romances da literatura brasileira contemporânea´, dá esse depoimento: ´Lembro-me, à época do lançamento d´A Casa´, do espanto dos leitores (entre eles, me incluo), ao ler o texto de uma escritora da pancada do mar que sabia captar e exprimir, com tanta sensibilidade, até com detalhes preciosos, a mística dos costumes sertanejos", cita ele.

A própria Natércia Campos tinha clara a importância do romance para o conjunto de sua obra. "Talvez no romance ´A Casa´, ´os segredos múltiplos da reminiscência, o mundo que vive entre nós, obscuro e palpitante´, nas palavras do mestre Luís da Câmara Cascudo, ajudem-me ampliar esta singular saudade dos sertões da terra", anotou à época da aparição do livro.

Ainda sobre a obra, publicada originalmente em 1997, a amiga de Natércia, a também escritora Regina Pamplona Fiúza, se posicionou dizendo: "É um romance que inventa a si mesmo! É a literatura do olhar, da observação profunda, da descrição extremamente poética. E ´A Casa´ se produz na superposição de duas suítes temporais, como as duas vozes na música. É a interação perfeita do narrador-personagem principal com o Leitmotiv".

Exposição
Além do lançamento do livro, o qual não será apresentado apenas por uma pessoa, sendo a palavra facultada aos amigos presentes, Carolina Campos, filha da escritora, adianta que, paralelamente, acontecerão outras atividades: "Vai ser uma grande homenagem da Academia Cearense de Letras para a minha mãe. No sétimo ano de falecimento dela, vamos também realizar uma mostra de parte do seu acervo, a qual, tem como curadora Neuma Cavalcante, da UFC, onde o material se encontra atualmente".

Carolina Campos acrescenta que também haverá uma exposição dos quadros originais da capa de "A Casa", pintados pelo artista plástico catalão Pablo Manyé. Natércia Campos teve uma ligação muito forte com a Espanha, país onde sua filha residiu. "A melhor amiga da minha mãe era a também escritora espanhola Margarita Solari, que também morou aqui em Fortaleza, onde as duas estreitaram os seus laços de amizade. Além disso, seus dois primeiros netos, Thiago e Natércia, também nasceram em Barcelona", relembra sua filha Carolina.

Romance  
A Casa
Natércia Campos
Imprece, 2011, 136 páginas, R$ 20
Lançamento às 19h30, na Academia Cearense de Letras (Rua do Rosário, 1, Centro).
Contato: (85) 3226.0326

NELSON AUGUSTO
REPÓRTER

CRÍTICA

Natércia Campos: crenças e mitos
Na escritura de Natércia Campos, além da própria imaginação, existe uma fusão entre pensamento e linguagem, numa perfeita harmonia entre enunciação e enunciado. Trata-se de uma linguagem pessoal, que une o sentimento poético à capacidade de observação; linguagem entrelaçada, portanto, ao poético, ao lirismo; por isso, imaginação e memória se fundem e se confundem, tornando-se um corpo uníssono.

Desse modo, o tom poético imprevisto é um dos fulcros de sua expressão literária; e o místico, o fabuloso, o fantástico imprimem-se como reais, à semelhança do universo palpável. Atinge o tom épico e mitológico, fruto do tom da fábula, em linguagem plástica. É um romance narrado em primeira pessoa: a própria casa, sofrendo um processo de antropomorfização, conduz a narrativa. Assim, a edificação do texto funde-se à da própria casa: "Fui feita com esmero, contaram os ventos, antes que eu mesma dessa verdade tomasse tento". No princípio, a casa; depois, o que ela iria comportar. O processo de construção da narrativa consiste na conversão de tijolos e madeiras em memória.

A autora, cedendo o fio condutor do texto a uma casa, faz desta a encarnação dos poetas da oralidade. Nesse sentido, a tessitura do romance se aproxima da rapsódia: mais que a história de uma família, o que, em verdade, se imprime é a história de um povo, tecida a partir das manifestações do mítico, do místico, das crenças, das superstições, do folclore, das lendas, das tradições populares...

Da narrativa
A casa, enquanto espaço, é a casa-grande, morada da aristocracia sertaneja; foi edificada a partir de um conhecimento intuitivo, hierárquico de engenharia e arquitetura: o pé-direto alto (para a circulação de ventos); nas paredes externas, bem a meio, buracos grossos, abertos pelo lado de dentro e fechados com argamassa (para a defesa); um longo e escuro corredor a ligar os vários quartos divididos por meia-parede (para o controle da sexualidade); a varanda dando para o Norte e para o Sul.

A pedra de lioz (calcária, branca e dura, usada em cantaria), posta na soleira, funda a casa; fixada à entrada, defensora e guardiã, protegeria, então, a família dos malefícios. Sob tal pedra iriam ser enterrados os umbigos dos recém-nascidos; (para que fossem apegados à casa paterna); As mulheres não poderiam tocar na soleira (da mesma forma como na ara dos altares), pois ficariam estéreis.

As simpatias do plano mágico eram guardadas sob a pedra. Para o dono da casa deixar de beber ou de jogar baralho, abandonar hábitos errantes, o lugar privilegiado para ocultar-se a moamba era na soleira. As primeiras unhas cortadas do bebê e o primeiro cabelo aparado iam para a soleira; o primeiro dente, para o telhado; e o segundo era escondido sob o batente do limiar. Aí também se punha a ponta da cauda do cachorro fujão. As defumações começavam pela porta da rua, exatamente da soleira. Daí recebia a mãe o filho voltando do batizado.

Em "A Casa", a escritora Natércia Campos enumera, ao longo da narrativa, algumas superstições, tais como: abrir-se a porta sem a intervenção do homem ou dos ventos (chegada de Ela - a morte); criança que chora no ventre da mãe (dotada de poder de cura); não podem ficar no escuro doente grave e menino pagão (a chama das velas protege os necessitados).

E, como existe uma relação intrínseca entre o sagrado e a morte, é esta uma das presenças mais constantes.

CARLOS AUGUSTO VIANA
EDITOR DO CADERNO CULTURA

Seção áurea: equilíbrio harmônico

Livro traz uma visão ampla sobre o panorama histórico da seção áurea: uma proporção encontrada em estruturas da natureza, usada da Pre-história à Modernidade

O modulador, 1948. Desenho de Le Corbusier, da Fundação Le Corbusier, em Paris. A seção áurea era buscada pelos artistas
Tanto nas artes como na arquitetura, as regras de proporcionalidade (o equilíbrio harmônico) sempre foram recorrentes para assegurar ao seu criador um auxílio favorável para suas composições. A seção áurea é uma das mais conhecidas. Muito já se estudou ou se escreveu sobre ela.

Afim de proporcionar uma visão abrangente desta temática, incluindo a sua compreensão espacial, seus aspectos simbólicos e místicos, sua ocorrência em estruturas da natureza e no ordenamento de obras de arte; o professor Antônio Martins da Rocha Junior escreveu o livro "Divina proporção: aspectos filosóficos, geométricos e sagrados da seção áurea".

Publicação
O livro, que será lançado, hoje, às 19h30, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, foi contemplado com o Prêmio Literário para Autores Cearenses 2010, promovido pela Secretaria da Cultura do Estado (Secult). O Prêmio selecionou escritores, editores, quadrinhistas, pesquisadores e autores de projetos gráficos em literatura e cultura em reconhecimento à originalidade de seus trabalhos.

"O livro apresenta uma visão histórica da seção áurea, servindo como um mote para se estudar outros assuntos. O interesse, portanto, não é difundir um formalismo de modelos predeterminados, mas fornecer instrumentos para uma análise simultaneamente matemática e poética de um objeto estético ordenado segundo a seção áurea ou qualquer outra proporção", explica Rocha Junior.

O pesquisador ressalta que a seção áurea é um tipo de proporção encontrada em estruturas da natureza e amplamente utilizada, da Pré-História à Modernidade, como ordenamento de certas manifestações artísticas.

Proporção áurea
"Ela fazia parte dos conhecimentos artesanais dos artistas, arquitetos e construtores nas grandes civilizações antigas e na obra de Euclides (330-275a.C). A seção áurea, no entanto, só será compreendida como experiência universalizante, ou seja, por meio da Filosofia, Geometria, História, Biologia, Física e de outros conhecimentos. Uma vez que você abre os olhos para a seção áurea, poderá refletir se o olho só vê aquilo que lhe interessa ou se existem configurações predeterminadas para a ordem das coisas".

Rocha Junior explica que a proporção áurea era, originalmente, uma proporção geométrica e não um conceito de cálculo abstrato. Nos primórdios das civilizações, o homem parecia compreender apenas de forma intuitiva o processo de ordenamento do mundo, da realidade.

"As relações de proporcionalidade da seção áurea são estabelecidas, originalmente, entre áreas e não entre números. Se hoje temos uma compreensão mais abstrata do que concreta das relações matemáticas, decorrentes da Modernidade inaugurada com o Renascimento, procuraremos explicar a seção áurea inicialmente por meio de processos algébricos, para, posteriormente, compreender o seu sentido espacial".

Livro  
Divina proporção Antônio Martins da Rocha Junior
Expressão Gráfica, 2011, 206 Páginas
O livro será lançado, hoje, às 19h30, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura

Navalhas registradas

Será lançado hoje, à noite, a exposição e o livro "Barbearia do Tempo", do fotógrafo Sérgio Carvalho. Imagens revelam o cotidiano desta tradicional atividade

  FOTOS: SÉRGIO CARVALHO
O projeto surgiu a partir de uma coincidência, de maneira inesperada. Durante uma viagem até o município litorâneo de Cascavel (a 70 km de Fortaleza), para visitar a Feira de São Bento, o fotógrafo Sérgio Carvalho descobriu a resistência ao tempo de uma profissão que já foi bastante popular. Entre os becos da feira, deu de cara com 12 barbeiros em plena atividade, de posse de suas tesouras e navalhas.

O achado suscitou no fotógrafo a ideia de um projeto, que resultou na exposição e no livro "Barbearia do Tempo", a serem lançados, hoje à noite, no Espaço Cultural Correios de Fortaleza. As imagens revelam, a partir do olhar acurado do autor, detalhes do cotidiano desses profissionais "à moda antiga".

  FOTOS: SÉRGIO CARVALHO
"Essa história surgiu por acaso, quando visitava a feira de Cascavel, considerada a segunda maior do tipo livre, no Brasil, atrás apenas da Feira de Caruaru (PE)", ressalta Carvalho. "Nesse dia, descobri esses barbeiros trabalhando lado a lado, nas varandas do mercado. Nunca tinha visto aquela cena em feira alguma, e sou frequentador delas. Faz parte do meu universo. Então foi algo que me chamou atenção", recorda.

"Isso foi em meados de 1999. Ao todo, eram 12 barbeiros. Fiz algumas fotos no dia e depois comecei a voltar todos os sábados para desenvolver mais o projeto. Conversava com os barbeiros, observava-os em ação, seu cotidiano", descreve o autor.

A partir daí, Carvalho iniciou o projeto de um ensaio documental sobre o tema. "Comecei a pesquisar sobre a Feira de São Bento, sobre os barbeiros. Com esse projeto ganhei o Prêmio Chico Albuquerque de Fotografia, da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará", explica.

  FOTOS: SÉRGIO CARVALHO
Logo depois, o fotógrafo foi contemplado pelo Edital de Patrocínio Cultural dos Correios. As duas premiações viabilizaram a produção do ensaio, do livro e da exposição, que fica em cartaz até julho. "São 26 imagens expostas, que, de certa forma, representam a realidade de vida e de trabalho desses barbeiros. É um trabalho de registro da profissão, mas com toda a subjetividade visual do fotógrafo", observa Carvalho.

No lançamento, alguns barbeiros vão estar presentes, quando verão as imagens pela primeira vez. Outra iniciativa do projeto é a realização de oficinas de arte e visitas guiadas para 300 crianças de escolas públicas. "Essa contrapartida é uma das exigências dos Correios no Edital. As atividades serão conduzidas pela arte-educadora Ângela Moraes", detalha Carvalho.

ADRIANA MARTINS
REPÓRTER

MAIS INFORMAÇÕES
Lançamento do livro e da exposição "Barbearia do Tempo", de Sérgio Carvalho. Hoje, às 19h30, no Espaço Cultural Correios (Rua Senador Alencar, 38, Centro). Contato: (85) 3255.7260

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Fotógrafo Tiago Santana retrata sertão em novo trabalho

  Foto: Divulgação
O homem, a terra. O homem que se confunde com a terra. Pode parecer banal, mas também se transformar em poesia se este tema é narrado pelas fotografias de Tiago Santana. Contador do Nordeste, Santana, desde que se iniciou na fotografia no final dos anos 1980, relata a vida dos romeiros, dos habitantes do sertão, da terra onde nasceu e se criou, à exemplo de grandes escritores como Graciliano Ramos. E é esta a história que lhe interessa. Não como uma reportagem jornalística, mas como uma possibilidade de ampliar o imaginário.

Inscrito na mais tradicional escola de documentarismo que caracteriza de alguma forma a fotografia cearense, Santana é o segundo autor brasileiro (o primeiro foi o Sebastião Salgado) a ser inserido na famosa coleção de livros de fotografia francesa PhotoPoche, criada em 1982 no Centre Nationale de la Photographie, pelo Editor Robert Delpire, e um dos projetos editoriais em fotografia mais difundidos do mundo, com mais de 150 livros, publicados em 3 coleções (História, Notas e Sociedade). Seu livro "Sertão" (Actes Sud, 12,80 euros) acaba de ser lançado em Paris.

O encontro entre autor e editor aconteceu em julho de 2007. "Ele conhecia meus livros Benditos e Chão de Graciliano e me disse que gostava muito da minha forma de fotografar", conta Santana por e-mail. "Para minha surpresa me fez o convite para entrar na Coleção Photo Poche, com meu trabalho sobre o sertão."
Quatro anos depois, com o número 17 da coleção Société, Tiago Santana nos apresenta um belíssimo ensaio sobre o sertão nordestino. A força de suas imagens também chamou a atenção do escritor cubano residente na França Eduardo Manet, que escreve o prefácio do livro: "Cada fotografia de Tiago Santana nos coloca frente a um enigma. Melhor: frente a enigmas fascinantes".

Santana nasceu no Crato, em 1966. Começou a trabalhar como fotojornalista e fotografo documentarista em 1989 e, desde então, publicou obras importantes, como "Benditos" (2000), "Brasil sem Fronteiras" (2003) "O Chão de Graciliano" (2006) e "O Sertão Dentro de Mim" (2010). Em 1994, fundou a editora Tempo de Imagem.

Num mundo cheio de redundâncias, de imagens que se plagiam a si mesmas e que aos poucos vão perdendo sua característica de linguagem e, portanto, de comunicação, a fotografia de Tiago ainda é capaz de surpreender, de nos tocar. "Procuro encontrar uma forma de contar histórias com sutileza, estranheza, mistério. Busco na singularidade daquelas pessoas, em seus lugares, olhares e paisagens que me inquietam e me impulsionam a fotografar, como se quisesse não só desvelar algo, mas também criar". O sertão de Santana não é exótico. É um olhar diferenciado de quem habita a região, mas que ao mesmo tempo também procura entendê-la e recriá-la. 
Fonte: Estadão

Livro "Barbearia do Tempo" é lançado na quinta-feira

A obra contempla em fotografias o cotidiano das barbearias nos becos da Feira de São Bento, em Cascavel

  Foto: Divulgação
O livro "Barbearia do Tempo", do fotógrafo Sérgio Carvalho, será lançado na quinta-feira, 2, às 19h30, no Espaço Cultural Correios de Fortaleza.

Paralela ao lançamento acontece também a abertura de exposição sobre a obra, com curadoria assinada pelo fotógrafo e editor Celso Oliveira.

A obra, contemplada com o Prêmio Chico Albuquerque de Fotografia da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará e com Edital de Patrocínio Cultural dos Correios, traz imagens que buscam resgatar a tradição do cotidiano das barbearias nos becos da Feira de São Bento, em Cascavel, no interior do Estado.

"Barbearia do Tempo" conta com textos de Gilmar de Carvalho, professor do curso de Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), de Celso Oliveira e do médico Assis Carvalho, irmão do fotógrafo.
Serviço

Lançamento do livro "Barbearia do Tempo", de Sérgio Carvalho

Dia 2 de junho, às 19h30
Local: Espaço Cultural Correios (rua Senador Alencar, 38 - Centro)
Outras info.: 3255 7262.
 
Fonte: O Povo

Francisco Pinheiro volta a Secult-Ce

Afastado desde fevereiro de suas funções como titular da Secretaria da Cultura do Estado, Francisco Pinheiro volta ao órgão hoje - ele já esteve à frente do cargo em janeiro e promete colocar em prática novos projetos, que deverão ser concretizados nos próximos três anos e meio

Pinheiro despediu-se, ontem, da Assembleia Legislativa
FOTO: FÁBIO LIMA (13/10/2008)
Seis meses depois de ter sido indicado pelo governador Cid Gomes para a Secretaria da Cultura do Estado (Secult), o ex-vice-governador Francisco Pinheiro (Professor Pinheiro) assume, em definitivo, hoje, o cargo. Ele chegou a atuar como secretário no último mês de janeiro, mas ficou pouco mais de 30 dias na função. No início de fevereiro, ele licenciou-se do cargo para assumir como suplente de deputado na Assembleia Legislativa, deixando em seu lugar a secretária adjunta, Maninha Morais.

No discurso de despedida na AL, ontem, ele foi breve. Falou da boa convivência com os colegas, "apesar das diferenças ideológicas". Ele pediu que seus projetos, ainda em tramitação no legislativo, fossem acompanhados por seus colegas de partido. Pinheiro elogiou, ainda, o processo democrático que elegeu a professora Otonite Corteza reitora da Universidade Regional do Cariri (Urca) e destacou a importância de discussões em torno do desenvolvimento sustentável.

Sobre a nova (ou velha) função, Pinheiro se disse tranquilo e aproveitou para afirmar que "há má vontade e desinformação" entre os que afirmam que a pasta da Cultura não tem trabalhado. "Tudo o que deveria ter sido feito foi devidamente cumprido, como os editais, que foram todos lançados", declarou o atual secretário.

De acordo com Pinheiro, no próximo sábado, todas as secretarias, incluindo a da Cultura, apresentarão ao governador novos projetos estruturantes para serem colocados em prática até o fim do seu mandato, em 2014. "Apesar de afastado do cargo, participei ativamente e acompanhei de perto a elaboração destes projetos", garantiu ele.

O primeira promessa diz respeito a criação da Pinacoteca do Estado, que deverá ser montada nos galpões da antiga Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), no centro histórico da Capital.

Outro projeto é de criação do Sistema Estadual de Arquivo e Documentação do Ceará. De acordo com Pinheiro, o acervo histórico do Estado está sendo perdido e, por isso, pretende criar arquivos municipais, onde todo este material será catalogado e mantido de acordo com as normas mundiais de conservação. Além disso, tudo será digitalizado e, "com exceção de documentos sigilosos", poderá ser consultado por qualquer pessoa através da internet.

Além disso, adiantou o secretário, a ideia da Secult é criar uma rede de centros culturais semelhantes ao Dragão do Mar, de Fortaleza, pelo Interior. "Seriam grandes centros de difusão da cultura funcionando em prédios que já existem e seriam reformados para esta função", explicou.

Pinheiro declarou também que não tem qualquer intenção de modificar a equipe que compõe a Secult. "Todos os gestores e assessores dos equipamentos culturais do Estado já foram confirmados ou substituídos quando passei um mês como secretário. Tudo já vem funcionando normalmente", ressaltou.

O secretário acrescentou que projetos importantes, como os de incentivo à leitura, terão continuidade. Outros, sofrerão algumas modificações. É o caso da política de editais, que tem sido mantida, mas terá a fiscalização ampliada. "O professor Auto Filho (ex-secretário) implantou esta política, mas daremos um passo adiante, verificando se os projetos estão sendo executados a contento", avisou.

Ele destacou que os recursos destinados para a pasta serão redefinidos e que buscará junto ao Governo Federal suporte financeiro para executar, principalmente, os projetos de arquivo e documentação. "Esta é uma área bastante importante".

Impasse
A crise na Secult teve início no dia 2 de fevereiro, data marcada para a posse dos candidatos eleitos deputados estaduais no pleito de 2010. Na ocasião, Francisco Pinheiro, iria assumir o cargo de secretário da Cultura do Ceará. Até aquela data, ele esteve durante todo o mês de janeiro em atividade na Secult. Contudo, por figurar na lista dos deputados eleitos (com 38.581 votos), Pinheiro teve que deixar a secretaria para assumir o mandato de deputado estadual. Para seu espanto, ao chegar às dependências da Assembleia Legislativa, onde deveria acontecer a posse dos eleitos, ele foi surpreendido com a notícia de que não seria mais titular da vaga de deputado. A Justiça Eleitoral havia feito alterações no quadro de eleitos, e, a partir daquele momento, Francisco Pinheiro passou a ser primeiro suplente. E o historiador não foi empossado.

Assim, naquele dia, em razão da saída dos deputados eleitos que ocupavam cargos nas secretarias, o então Secretário da Cultura foi convocado para assumir a Assembleia como suplente. Em entrevista ao Caderno 3, concedida no dia 16 de abril deste ano, ele explicou, que no dia da posse surgiu uma liminar em que o Partido Trabalhista Cristão (PTC) ganhou uma vaga na Assembleia e tirou uma vaga da coligação PSB, PT e PRB.

"Estamos trabalhando no sentido de reverter essa situação, tendo em vista que o partido que ganhou a vaga, o PTC, não fez coeficiente eleitoral. Entramos com uma ação sete dias depois, que hoje está tramitando no Tribunal Regional Eleitoral e, de lá, segue para o Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília. Temos que aguardar a decisão, mas estou certo que o bom direito vai prevalecer", destacou na época.

Pinheiro, que disse, ontem, ainda aguardar uma decisão da Justiça Eleitoral, chegou a revelar, ainda, que a lista dos novos gestores dos equipamentos culturais do Estado só seria confirmada após seu retorno à Secult. A medida é uma das mais importantes para o setor, e seu adiamento parece ter colocado a Secretaria em um hiato. O único nome que havia sido confirmado foi o de Isabel Cristina Fernandes, nomeada diretora de Ação Cultural do Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC).

Desde então, quem assumiu a titularidade da pasta da cultura foi Francisca Andrade de Morais, Maninha Morais. Ex-presidente do Instituto de Arte e Cultura do Ceará (IACC). Ela foi nomeada secretária adjunta da Cultura do Estado, em janeiro, e passou a acumular as duas funções. Na época, ela também conversou com o Caderno 3. "A secretaria está funcionando. Estamos recebendo todas as demandas, temos uma pauta imensa de audiências. Estamos lançando os editais no período que tem que sair, aliás, acabamos de lançar o Edital da Paixão, e o Edital dos Pontos de Cultura fechamos agora com 399 projetos inscritos, para escolha de 100 pontos. Com relação aos projetos que vamos desenvolver, estamos fazendo reuniões com todas as coordenações, fazendo um balanço mesmo. Muitas questões foram pensadas no mês de janeiro, quando Professor Pinheiro estava aqui, e estamos considerando todas as demandas e dando os devidos fins. Estamos antenados, trabalhando junto. Quando essa situação for resolvida, apenas daremos continuidade aos trabalhos", revelou Maninha.

FILIPE PALÁCIO/ANA CECÍLIA SOARES
REDATOR/REPÓRTER

terça-feira, 31 de maio de 2011

Literatura-Leia-me, se for capaz

O escritor Pedro Salgueiro lança amanhã uma coletânea de autores cearenses apenas sobre contos fantásticos: causos, lendas e histórias para ninguém dormir

Xilogravura de Sebastião de Paula
Na boca da noite, quando a lua cheia chegava e a escuridão já não era mais contida pela parca luz dos postes da Light, vinham com ela as muitas histórias misteriosas, contadas ao breu das velas, recriadas pelos adultos com o intento sem-vergonha de assustar meninos pequenos.

Ah, mas não era só isso. Contar histórias fantásticas sob a luz da vela de cera era a manutenção de uma tradição virtuosa, da qual boa parte dos cearenses, até onde penso, usufruíram.

E nem é preciso ir assim tão longe no tempo. Porque mesmo na cidade grande, longe das paragens do interior, quando simplesmente faltava luz, toda criança já ouviu do pai, da mãe, do avô ou mesmo do irmão mais velho, uma dessas histórias de arrepiar.

Era ali, pertinho da vela, na mesa ou no chão da sala, enquanto se olhava de rabo de olho para a lâmpada vermelha da TV (à procura de um vestígio de eletricidade), que se buscava nos bornais da memória os causos contados muito dantes. Quais delas você ouviu? Eu ouvi a da pedra acorrentada que ia se soltar de cima da serra e destruir a cidade inteira; a do rio que sussurrava anunciando que ia morrer gente afogada; a da pick-up preta que carregava os moleques e outras tantas, lendas urbanas ou sertanejas.

Para o escritor Pedro Salgueiro, natural de Tamboril, as histórias ouvidas eram "cavalos sendo misteriosamente açoitados em estradas escuras, luzes vistas debaixo das oiticicas na beira de rios, machados cortando carnes durante a madrugada no mercado fechado e meninos que apareciam e desapareciam em jardins e camarinhas...", como descreve o próprio.

De tanto ouvir tais causos, Pedro investiu na produção do romance fantástico e, de escritor, passou a pesquisador do assunto. Em cerca de três anos de pesquisa, Pedro conseguiu, com a parceria de alguns outros escritores, reunir em torno de 130 contos fantásticos desenvolvidos por autores cearenses, desde obras de Juvenal Galeno, escritas na década de 1830, até livros inteiros dedicados ao gênero, produzidos por jovens escritores como Alan Santiago e Robson Ramos.

"O Cravo Roxo do Diabo: o Conto Fantástico no Ceará", que será lançado amanhã no Sesc Senac Iracema, foi fruto desse mergulho no insólito, escrito aqui mesmo, no Ceará, ambientando muitas vezes ali, na esquina daquela rua pela qual você passa todos os dias.

Gênero
Apesar das histórias de deuses, da Antiguidade Clássica, o fantástico se consolidou a partir do Romantismo e, desde então, transformou-se ao longo dos anos. Por isso, não se pode dizer que haja uma característica própria apenas da produção cearense. Segundo Pedro Salgueiro, no entanto, algumas particularidades permanecem, garantindo a harmonia do gênero.

"Até o século XX, predominavam as histórias fantásticas fantasmagóricas, mas isso vem mudando. Hoje, entre os modernos, os escritores mais jovens, há um pouco de tudo: lendas urbanas, ficção científica. O fato é que o conto fantástico é aquele que aborda aquilo que não pode ser explicado racionalmente e esse conceito, de certa forma, une essas produções". Acrescenta ele que muitas dessas histórias atuais são ligadas ao cotidiano e os eventos misteriosos acontecem, inclusive, à luz do dia.

Os três anos de pesquisa demonstraram como o gênero é, de fato, relativamente novo no Nordeste. Apesar de vários autores cearenses terem escrito algo de fantástico em suas obras, produções integralmente pertencentes ao gênero são recentes porque, de acordo com Pedro, o Nordeste é uma região convencionada como realista.

"Essa região era vista assim por conta das histórias de lutas do homem contra as intempéries do clima, as secas... Essa pesquisa também surgiu desse desafio, de mostrar que há no nosso Estado muita produção fruto da imaginação e não só literatura voltada para o social", defende Pedro.

Pesquisa
Vencer o edital que viabilizou a produção do livro foi até fácil, difícil mesmo foi a compilação de tantos textos, encontrados por indicações de autores e principalmente por investigações dignas de Sherlock Homes.

Para tanto, Pedro Salgueiro contou com a parceria do professor do Departamento de Letras da Universidade Federal do Ceará, Sânzio de Azevedo, e do professor de filosofia Alves de Aquino, conhecido como o Poeta de Meia-Tijela, que desafiou Pedro a incluir na coletânea uma outra vertente do gênero fantástico: a poesia. Deste modo, as quase 700 páginas de "O Cravo Roxo do Diabo" guardam 130 contos, 60 poesias e ainda 17 fragmentos de romances.

Entre os autores selecionados, destacam-se nomes como José Alcides Pinto, Carlos Emílio Corrêa Lima e Dimas Carvalho, alguns dos que privilegiaram o gênero em suas obras. Muitos dos outros autores o implantaram em seus escritos muito mais como um desafio, uma fuga da escrita realista, uma experimentação motivada por uma boa história que o povo conta.

Até o próprio nome que intitula o livro tem os seus dois pés no gênero. "O Cravo Roxo do Diabo" é o título de uma obra de Alvaro Martins (1868-1906), uma das primeiras a ser pesquisada para o compêndio e a única que simplesmente desapareceu. Isso mesmo, juro. O tal texto estava publicado em uma edição da revista Iracema, cuja coleção está integralmente preservada na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Ou ao menos estava. Faltava uma. A bendita (ou maldita?).

Até Jorge Brito, bibliófilo cearense, foi escalado para a busca e, pasmem, sequer ele tinha posse do conto ou sabia onde localizá-lo. Aí, não tem jeito, se Jorge não sabe, ninguém sabe. Resolveu-se, contudo, deixar a obra como título da coletânea, afinal já se havia mexido com o nome do "capiroto", então era melhor não contrariá-lo.

Quem sabe um dia, quando estranhamente faltar luz na sua rua, você escute que o próprio Alvaro apareceu um dia, em carne e osso, entregando a edição da revista a uma bibliotecária. Aquela que, inclusive, mora no seu condomínio. Vai saber.

Romance fantástico
"O Cravo Roxo do Diabo": o conto fantástico no Ceará  
Pedro Salgueiro
Expressão Gráfica, 2011, 673 páginas, R$ 30,00


O livro será lançado, amanhã, às 19h, no Sesc Senac Iracema (Rua Boris, 90c), integrado ao projeto Bazar das Letras. Promoção de lançamento: levando dois títulos, paga-se R$ 50,00

MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Tudo o que não é realismo

O lançamento da coletânea O Cravo Roxo do Diabo: contos fantásticos no Ceará chama a atenção para nossa tradição literária fantástica e o cenário da produção contemporânea


O escritor Pedro Salgueiro anda receoso, empregando extrema perícia em atividades aparentemente simples, tais como atravessar uma rua. Nas últimas semanas, pequenos contratempos têm se encarrilhado de forma sinistra. Não se podem descrever precisamente as engrenagens que articulam seus efeitos, mas tudo indica que a publicação de seu último livro, no qual assume o humilde posto de organizador, está por trás dos tenebrosos fatos.

Primeiro, ele havia contado 170 textos selecionados para integrar a obra, uma coletânea de contos fantásticos de escritores cearenses, do século XIX até os dias atuais. Outras pessoas autenticam a idoneidade dos números. Ao finalizar o arquivo, não mais do que 130 foram contabilizados. Outro dia desses, os mil exemplares do calhamaço de quase 700 páginas já estavam encadernados na gráfica quando um desvio da norma foi detectado, o inominável havia baldeado a lógica do software de última geração responsável pela coincidência entre as páginas do livro e as indicações do sumário.

“Por precaução, eu não estou mais nem chamando o livro de... só de O Cravo Roxo”, confidencia Pedro Salgueiro. O título do livro pode guardar o motor desses sobressaltos dos últimos tempos.

O Cravo Roxo do Diabo, de Álvaro Martins (1868-1906), foi um dos primeiros contos a serem pesquisados para a coletânea de contos fantásticos cearenses. No entanto, resistiu a todas as tentativas de lhe quebrarem o encanto. Não estava em nenhuma das bibliotecas particulares visitadas, eminentes bibliófilos não souberam de seu paradeiro. Apesar de ser mencionado na História da Literatura Cearense, de Dollor Barreira, integrando um dos volumes da revista Iracema, do Centro Literário, que circulou em 1895, justo o número da coleção estava ausente das estantes da Biblioteca Nacional.

Depois de três anos de busca, o conto – não encontrado – dá título à coletânea. O Cravo Roxo do Diabo: o conto fantástico no Ceará será lançado na próxima quarta-feira (1°/6), dentro da programação do projeto Bazar das Letras, no Sesc Iracema, reunindo, além de mais de uma centena de contos, 17 trechos de romances e 60 poemas. A pesquisa é a maior jamais feita sobre o gênero na literatura cearense e contou com a ajuda de Alves de Aquino, o Poeta de Meia-Tigela, e o professor do Departamento de Letras da Universidade Federal do Ceará, Sânzio de Azevedo. O projeto foi patrocinado pela Secretaria Estadual de Cultura através de edital.

“Um dos meus primeiros desafios foi a questão de que a literatura do Nordeste, do Ceará em específico, é realista. Por conta da força da luta do homem com a terra, com o clima, se convencionou isso. Quando eu fui lendo, fui vendo que não era bem assim. Acho que é predominantemente isso, mas tem muito mais”, considera o organizador. O volume de textos coletados não deixa dúvidas, aponta para a possibilidade de se incrementar a tradição de uma literatura fantástica no estado e mesmo no país.

Na coletânea estão desde escritores cearenses formados no século XIX ou da primeira metade do XX, a exemplo de Juvenal Galeno, Oliveira Paiva, João Clímaco Bezerra, Rachel de Queiroz, Moreira Campos, até contemporâneos como Gilmar de Carvalho, Ronaldo Correia de Brito, Ana Miranda, Jorge Pieiro e Demitri Túlio. Destaque especial para José Alcides Pinto, talvez o que mais abrigou o fantástico em sua obra e figura na coletânea com o conto A Imaginada e um trecho do romance Os Verdes Abutres da Colina (1974). A linhagem da literatura fantástica cearense é analisada a seguir em artigo de Nilto Maciel.


SERVIÇO

Lançamento O Cravo Roxo do Diabo: o conto fantástico no Ceará
Quando: dia 1º de junho, às 19 horas
Onde: Sesc/Senac Iracema (Rua Boris, 90 – Dragão do Mar)
Quanto: R$ 30 (o livro)

Pedro Rocha
pedrorocha@opovo.com.br

Fonte: O Povo

Por uma vida melhor-Livro não será adotado no CE

Para o Ensino Médio, o Estado fez aquisição de livros com recursos próprios para atender os alunos em 2010 e 2011

A publicação defende a escrita sem concordância de expressões orais populares, o que causou polêmica
FOTO: DIVULGAÇÃO
O livro “Por uma Vida Melhor”, que contém erros de concordância, distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos, do Ministério da Educação, não será adotado pelas escolas cearenses municipais e estaduais. Na publicação, são usadas frases como: “nós pega o peixe” e “os menino pega o peixe”. Segundo as secretarias municipal e estadual de Educação do Ceará, o motivo da escolha de outros livros não foi os erros de concordância.

O livro didático distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) a 4.236 escolas brasileiras que defende a escrita sem concordância de expressões orais populares, apoiado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), ressalta que não há só uma forma correta de falar o português brasileiro.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação (SME), a escolha dos livros didáticos é feita, no fim do ano letivo, por meio de enquetes entre os professores da rede municipal.

Conforme a Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc), entre os livros escolhidos pelos professores da rede estadual, para o 6º ao 9º ano, da Educação de Jovens e Adultos, também não está incluso “Por uma Vida Melhor”. Ainda segundo a assessoria de imprensa da Seduc, no que diz respeito ao Ensino Médio, o Estado fez aquisição de livros com recursos próprios para atender os alunos matriculados em 2010 e 2011.

Para o psicólogo e mestre em educação, Marco Aurélio de Patrício Ribeiro, todo processo de inclusão precisa ser valorizado na educação. E nesse aspecto, devem estar incluídas também as pessoas que têm um berço cultural diferente do padrão “adequado”. Segundo ele, a preocupação do MEC é de grande relevância para que todos se sintam acolhidos na escola.

Exagero
Por outro lado, Marco Aurélio acredita que houve um certo exagero na adoção desse livro paradidático pelo MEC. Ele ressalta que, considerando a forma popular como correta, a escola começa a perder o sentido que é de ensinar o que foi definido como padrão linguístico.

“Uma coisa é você aceitar aquele aluno falando as expressões populares originárias da sua cultura, outra coisa é aceitar que essas expressões sejam usadas como corretas”, diz. Segundo ele, a melhor forma de incluir esses alunos é explicando, em sala de aula, a origem dessas palavras, sem esquecer de usar o padrão linguístico adequado. O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que o governo não vai mandar recolher o livro, caso contrário o Ministério estaria fazendo censura.

Karla Camila
Especial para Cidade


Fonte: Diário do Nordeste

Secult realiza I Encontro Estadual de Gestores Municipais de Cultura


O governo do Estado, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, realiza no próximo dia 1 de junho no Centro de Convivência dos Servidores, do Centro Administrativo do Cambeba, às 8h, no I Encontro dos Gestores Municipais de Cultura, com objetivo de retomar as discussões sobre a a elaboração dos planos municipais de Cultura, na perspectiva de ampliar o debate que vai culminar com a formulação do Plano Estadual da Cultura. Participam do Encontro membros do Conselho Estadual de Cultura, presidentes dos Fòruns de Cultura e diretores dos equipamentos culturais do estado.

Durante a programação, que acontecerá durante todo o dia, haverá apresentação da estrutura funcional da Secult, ministrada pela secretária em exercício Maninha Moraes, apresentação das diretrizes da Política Cultural do Estado.

Confira a programação
Serviço:
Encontro Estadual de Gestores Municipais da Cultura
Local: Centro de Convivência do Servidor Público, do Centro Administrativo do Cambeba
Data: 01 de junho
Hora: Abertura às 08h  

Jorn. Sonara Capaverde
Mtb 6553/RS
Coordenação de Comunicação da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará

Fonte: Secult-Ce