segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Livro resgata inventário da arquitetura de Iguatu

Historiadora e fotógrafa Gardevânia Farias revela imagens raras e aborda a falta de preservação de imóveis

O livro traz, entre outras imagens, a fachada do antigo casarão de Otaviano Benevides, em Iguatu. O imóvel foi demolido para construção da Caixa Econômica Federal HONÓRIO BARBOSA

Iguatu Esta cidade, que foi polo da região Centro-Sul ao longo do século passado, registrou uma forte expansão comercial após a chegada da ferrovia. Com o tempo, optou-se por substituir casarões e lojas em estilo eclético por edificações modernas, nem sempre de bom gosto.

O passado ficou nas lembranças dos moradores mais antigos, mas agora foi resgatado em forma de livro sob o título "O conciso inventário do patrimônio histórico e arquitetônico de Iguatu", da historiadora e fotógrafa Gardevânia Farias.

O livro foi lançado no auditório do Centro de Atividades do Sesc de Iguatu e vem obtendo ampla repercussão entre os leitores. Dividido em três partes, a publicação apresenta bom acabamento e traz significativas fotos do patrimônio existente, inexistente e um recorte da antiga e atual Praça da Matriz de Senhora Sant´Ana, que no passado era denominado de Quadro.

O leitor encontrará em cada página imagens da memória do antigo núcleo urbano. Para a geração mais nova, surpresas. Para os que vivenciaram o passado não tão longínquo, até a década de 1970, recordações de um tempo nostálgico. "Eu queria que as pessoas conhecessem os casarões que existiram em nossa cidade", disse a autora. "É preciso reconhecer a nossa história e, com urgência, preservar os imóveis ainda existentes".

O arquiteto Brennand Bandeira explicou que a maioria dos imóveis construídos no final do século XIX e no século XX deve ser classificada como estilo eclético.

"Há alguns exemplares que receberam influência da "art déco", como o prédio dos Correios, do Senac e do Grupo Escolar Carlos de Gouvêa", observa. "A obra contribui para a educação patrimonial e mostra face a face o passado, quando Iguatu buscava a urbanização, e o presente, legado à custa do assassinato da memória".

Bandeira observa que a obra emociona os leitores pelo resgate da imagem fotográfica. "É quase impossível folhearmos suas páginas sem que nos sintamos comovidos pela perda inexorável da beleza. Não é de saudosismo ou romantismo o que falo, mas do sentimento de incompletude quando temos que vivenciar o ´novo´ sem qualquer vestígio do ontem", observou o arquiteto.

Perda de acervos
O professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), Romeu Duarte Júnior, destacou a importância da publicação nesses tempos que ele denominou como confuso e de destruição de acervos históricos e culturais. "A obra é relevante por apresentar um registro do que ainda existe e por despertar um sentimento de preservação, em meio à urgência das tentativas de salvaguarda, bem como à incúria e ao desmazelo".

Para Romeu Duarte, ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Ceará (Iphan), no Ceará, "o presente trabalho é um lembrete a todos nós, sujeitos públicos e privados, acerca de nossas responsabilidades para com a proteção do patrimônio cultural".

A coordenadora de Cultura do Sesc, em Iguatu, Patrícia Vênus, observa que "a obra é capaz de causar estranhamento naqueles que jamais apontariam como patrimônio as geralmente velhas e mal conservadas fachadas pelas quais passam cotidianamente e delicadeza naqueles que lamentarão a destruição dos últimos resquícios do passado local".

Das dezenas de casarões tombaram ao longo da história no entorno de praças da cidade, poucos exemplares resistiram ao tempo. Fotos antigas revelam quão diferentes eram as edificações dos antigos casarões e a própria Praça da Matriz, um espaço público modificado várias vezes. Há mostra do antigo altar, de imagens e relato da história da implantação do templo pelos padres carmelitas.

No Bairro Santo Antônio, com a fachada recentemente reformada e preservada, encontra-se o antigo Hospital Santo Antônio dos Pobres, construído no primeiro quartel do século passado, pelo médico e político Manoel Carlos de Gouvêa. Em breve, o imóvel vai abrigar a 18ª Célula Regional de Saúde. Folhear as páginas do livro é viajar na história, conhecer e reconhecer antigos imóveis e deparar com a triste realidade de que quase nada foi preservado.

MAIS INFORMAÇÕES

Gardevânia Farias
Telefone: (88) 9618. 2696
Livraria Informativa: Abrigo Metálico, Centro. Telefone: (88) 3581. 3506


Honório Barbosa
Repórter

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