quinta-feira, 17 de novembro de 2011

José de Alencar à casa torna

29 manuscritos, 13 cadernos e mais de 1.500 páginas de escritos do precursor do romance moderno brasileiro, guardados no Rio de Janeiro, voltam ao Ceará, numa revitalização da Casa José de Alencar. Os arquivos serão digitalizados e ficarão disponíveis para consulta em 2012


Alencarino (adj. masc.) – 1. Relativo ou pertencente ao escritor brasileiro José de Alencar, à sua obra ou estilo. 2. Quem nasce no Ceará, a terra de José de Alencar (informal). Variação: alencariano. Se “bom filho à casa torna”, os netos não ficam atrás. Mais de cem anos após seu falecimento, o maior símbolo da literatura cearense, José de Alencar, terá de volta ao Ceará alguns de seus filhos de papel e tinta: escritos alencarianos em terras de alencarinos. Na busca de se tornar um centro de referência em pesquisa na obra do escritor, a Casa de José de Alencar (CJA) vem num processo de repatriamento de 13 cadernos do messejanense, totalizando cerca de 1.500 páginas de manuscritos do autor.

O repatriamento é apenas uma das três etapas atuais no processo de revitalização do espaço da casa onde José de Alencar residiu na infância, em Messejana, tendo nascido em 1829. O equipamento, gerido pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e dirigido pelo professor João Arruda, busca se tornar um centro de referência em pesquisa na obra literária, crítica e até filosófico-antropológica de José de Alencar, de acordo com o diretor do espaço.

A primeira fase foi a digitalização de todo o material físico escrito por José de Alencar (ou transcrito por Mário de Alencar, seu filho). O processo começou com a pesquisa do professor Marcelo Peloggio, do departamento de Literatura da UFC, que despontou no lançamento do livro filosófico-antropológico Antiguidade da América e A raça primogênita. “Antes só existia como registro físico; você tinha que ir ao Rio de Janeiro e ter uma autorização especial para lidar com esse material, agora vai ficar disponibilizado para quem tiver interesse”, disse Marcelo Peloggio. Os dois escritos que formaram o livro serviram de pontapé para a digitalização de todo o material do Museu Histórico Nacional (MHN), que poderá ser acessado na própria biblioteca do CJA a partir de maio de 2012.

Complementando a primeira fase, a segunda parte do processo contou com a organização de um livro com os resumos de todos os arquivos com domínio da CJA. “A gente tinha notado que havia certa dificuldade para o estudante, dado o volume da obra de José de Alencar, em qual a literatura que podia contribuir em sua pesquisa”, explica o professor João Arruda, diretor da Casa. Esse livro, de acordo com o diretor da CJA, já está sendo distribuído para bibliotecas públicas e cursos de letras de universidade públicas. “Vai ser um Google de José de Alencar”, brinca.

A fase final, planejada para culminar no ano próximo, será o repatriamento das obras armazenadas no arquivo histórico do MHN. Daniella Gomes, responsável pelo arquivo histórico do museu, lembra da magnitude dos manuscritos, somando 1.500 páginas de arquivos do século retrasado. De acordo com João Arruda, porém, esses documentos em breve devem partir para a Casa de José de Alencar, onde poderão ser consultados por estudiosos e curiosos sobre as outras facetas do cearense.

Apesar de precursor no romance genuinamente brasileiro e com uma obra extensa, contando cerca de 20 romances publicados entre 1856 e 1877, José de Alencar deixou para as gerações futuras ainda 29 manuscritos, todos mantidos na segurança do Museu Histórico Nacional – mas fugindo da terra do autor e seus conterrâneos em muitos quilômetros. Entre as obras digitalizadas em breve disponibilizadas para todo o público, se destacam os textos filosóficos-antropológicos editados por Marcelo Peloggio no ano passado, os originais da autobiografia e trechos da primeira tentativa de romance de Alencar, Os contrabandistas, que nunca foi finalizado.

SERVIÇO

Casa José de Alencar (avenida Washington Soares, 6055 – Alagadiço Novo).

Visitação: Segunda à sexta-feira das 8h às 17h; sábados e domingos e feriados das 8h às 15h.
Entrada gratuita.
Outras informações: (85) 3276 2379 / 3229 1898


André Bloc
andrebloc@opovo.com.br

Fonte: O Povo

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