terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ninguém derruba a casa do português

O Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico-Cultural aprovou o tombamento definitivo do extravagante imóvel do bairro Damas

O tombamento agora depende do parecer jurídico da Secretaria de Cultura de Fortaleza e da assinatura da prefeita Luizianne Lins (FOTO GABRIEL GONÇALVES)

Protegida contra intervenções que desfigurassem sua estrutura original desde 2006, quando o processo de tombamento foi aberto pela então Fundação de Cultura, Esporte e Turismo (Funcet), a Casa do Português, localizada na avenida João Pessoa, está prestes a ter seu tombamento definitivo oficializado. A aprovação por unanimidade do parecer favorável do arquiteto Romeu Duarte e da historiadora Ivone Cordeiro em reunião do Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico-Cultural (Comphic) foi o passo decisivo para a conclusão do processo.

A decisão agora depende apenas do parecer do setor jurídico da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), que analisa o pedido de impugnação do processo de tombamento formalizado pelo atual proprietário. “Eu acredito que eles não levem isso à frente, porque já foi decidido pelo conselho”, afirma Clélia Monasterio, coordenadora de Patrimônio Histórico e Cultural da Secultfor. Após o parecer jurídico, o relatório do conselho deve ser encaminhado para assinatura da prefeita Luizianne Lins e registrado no Livro do Tombo, que já possui outras 31 edificações.

O prédio “pitoresco”, como foi muitas vezes adjetivado ao longo de seus mais de 60 anos de existência, teve sua preservação argumentada por ser uma referência da cidade, marco simbólico, arquitetônico e afetivo de Fortaleza. De acordo com o parecer, “o prédio notabilizou-se, desde a sua inauguração, por seu aspecto insólito e exagerado, espécime arquitetônico pitoresco em meio a uma Fortaleza constituída por uma arquitetura de escala comportada”.

Arquitetura kitsch
“A arquitetura da Casa do Português baseia-se no universo “kitsch”, como expressão material e cultural de uma classe social emergente, recém enriquecida e ávida por ostentação. Suas linhas evocam a força das estruturas de concreto, o romântico do ‘mission style’ californiano das arcadas e o idílico das longas pontes e passarelas, algo muito distante da arquitetura elaborada pelos pioneiros modernistas cearenses de então”, explica Romeu Duarte, professor de Arquitetura da UFC.

O tombamento da casa representa para Romeu a prova de que a ideia de “patrimônio cultural” está experimentando uma intensa expansão de seus critérios e público. “Há bem pouco tempo, a Casa do Português era motivo de riso por parte da ‘intelligentzia’ fortalezense, notadamente o segmento de arquitetura e urbanismo, quando esta passava pela Av. João Pessoa. Hoje é bem tombado pelo Município”, compara.

A casa de três andares (com 11 quartos e três banheiros apenas no primeiro deles), com uma rampa para automóveis que circunda sua robusta estrutura em concreto armado, chamou a atenção da população fortalezense desde sua inauguração em 1950. Comentava-se sobre a imensidão da casa construída pelo fazendeiro e comerciante português José Maria Cardoso para abrigar sua pequena família, composta apenas de esposa e filho único – não por acaso ele deu o nome de Vila Santo Antonio ao imóvel. Mas o que principalmente provocava o burburinho era a arquitetura inusitada para a época, que a fez figurar em cartões postais da cidade na década de 1960 e se transformar numa referência arquitetônica de Fortaleza.

Depois de servir de morada por alguns anos para a família de José Maria, o imóvel foi sede da Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Ceará (Ematerce) de 1965 a 1984, abrigou uma oficina mecânica, funcionou como cortiço, entre outros usos (ver coordenada), e figurou nas páginas dos jornais com notícias como a prisão de assaltantes e um suicídio. Hoje a estrutura do prédio aparenta abandono, apesar de abrigar algumas famílias, que vivem no lugar com autorização do proprietário.

DETALHES DA CASA

Famílias ocupam imóvel

1) A casa é ocupada por famílias com a autorização do proprietário 2) A intenção do dono é transformar o local em shopping do tipo outlet 3) O imóvel aparenta abandono


Pedro Rocha
pedrorocha@opovo.com.br

Fonte: O Povo

Um comentário:

Leila Nobre disse...

A história da casa do português é maravilhosa, ainda bem que resolveram enfim tomar uma atitude digna de aplausos. Já estava mais que na hora de tombarem um patrimônio tão importante quanto este.

Abraços e gostei muito do blog, parabéns!