domingo, 15 de maio de 2011

Especial Santificados- O Povo

O POVO revela histórias de pessoas comuns que, quis o destino, foram 'santificadas' por um mundo de devotos espalhados nos municípios do Ceará e de outros Estados do Brasil
Abaixo, Ana Benigna, 13, com a mãe Alecsandra e o desenho da santa. No alto (a partir da esquerda): o santuário em pedra cariri; um vestido de Benigna; Seu Francisco Agostinho Pereira, 77, diante do túmulo, no Oiti; e a arte em madeira, feita por seu Agostinho, retratando o episódio 70 anos atrás (Foto:Igor de Melo )
Quando menos esperava a vidinha anônima, deu numa mártir e caiu nas graças do povo do Sertão ou Capital: “santos” ou “santas” de altares de beiras de estradas. Sem os cânones do Vaticano, é verdade. Mas repletos de pedidos, promessas, validos alcançados, ex-votos e procissões para reverenciar um exemplo de vida e morte em sacrifício. O POVO revela histórias de pessoas comuns que, quis o destino, foram “santificadas” por um mundo de devotos espalhados nos municípios do Ceará e de outros Estados do Brasil.

Em Santificados - Nos Altares de Beira de Estrada, primeiro caderno de uma série de três grandes reportagens, jornalistas do O POVO narram a vida e a morte de personagens de carne e osso que passaram a alimentar a fé nos sertões do Cariri. Feito o exemplo da adolescente Francisca Augusta da Silva que, assassinada brutalmente pelo ex-noivo em 1958, atravessou os tempos e fez construir até igreja em torno do local onde caiu falecida na crédula Aurora, situada a 463 km de Fortaleza. Francisca seria desses personagens bíblicos usados para transformar os outros pelo exemplo do martírio.

Criaturas místicas, segundo o olhar apurado da irmã belga Annette Dumoulin - coordenadora da Pastoral da Romaria e Acolhimento em Juazeiro do Norte. Para a religiosa, moradora de Juazeiro desde 1976, indivíduos contraditoriamente encantadores como a beata Maria de Araújo. Cabocla, preta, feia e analfabeta, que teve a vida estigmatizada por um fenômeno que lhe foi involuntário, o “milagre da hóstia”.

E o que há de importante se o Vaticano não legitima um altar para o banido Padre Cícero ou os santificados de beira de estrada? “Pra mim, o mais importante é a santidade reconhecida pelo povo. A canonização do Padre Cícero é triste, pra mim pode até fazer de padre Cícero um santo como os outros”, observa Annette Dumoulin.

“O povo tem seu panteão, e está aberto para incorporar outras figuras a seu culto. Essas manifestações se dão à margem de um catolicismo oficial”, dialoga o jornalista e pesquisador Gilmar de Carvalho, em ensaio para este primeiro caderno da trilogia.

Para Gilmar, “pode-se pensar em uma religiosidade popular, sertaneja, ou qualquer outro nome que se queiram atribuir a estas evidências de um outro sagrado, de uma mediação construída entre Deus e os homens, a partir dos santos caboclos”.

Santificados - Nos Altares de Beira de Estrada abre também as homenagens ao centenário de fundação de Juazeiro do Norte. No especial que inaugura a cobertura,

O POVO apresenta sete narrativas sobre o grande mosaico da fé que transpassa o encantado Cariri. A maior parte inédita às coberturas jornalísticas. A série de reportagens sobre as “canonizações espontâneas” traduz, enfim, sobre a nossa imensa capacidade de acreditar.

Para escrever a série de cadernos especiais, repórteres e fotógrafos do O POVO, guiados pelo motorista Valdir Gomes, percorreram cerca de cinco mil quilômetros entre sertões, serras e litoral deste Ceará. Uma ideia agora levada aos leitores que nasceu numa visita ao Museu do Oratório, em Ouro Preto das Minas Gerais.

SERVIÇO
SANTIFICADOS - NOS ALTARES DE BEIRA DE ESTRADA
Publicação. Sábado, 30, no O POVO

Caderno 1: O primeiro especial da trilogia Santificados apresenta narrativas sobre a história de vida e morte de pessoas que são veneradas no Interior cearense. Destaque para a região do Cariri.

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