domingo, 15 de maio de 2011

Além dos limites

Ao artista cabe ser indômito. Superando limitações impostas pelo corpo e outras, abusivas, motivadas pelo preconceito e por falta de políticas públicas, artistas e público encontram novos caminhos que levam aos território da criação

Francisco Almeida: talento reconhecido também fora do estado. O artista disse que a fórmula para combater a doença que o acomete é trabalhar intensamente
FOTO: KID JUNIOR
Como é a relação dos portadores de necessidades especiais com a cultura e o fazer artístico? Quais as principais limitações e soluções de acessibilidade? Que projetos são destaque em Fortaleza? Qual a importância da música, do teatro, da literatura e de outras linguagens para os que convivem com alguma deficiência? O Caderno 3 investigou essa questão a partir do depoimento de realizadores e profissionais ligados à área.

Um deles é o artista plástico e xilogravurista Francisco de Almeida, cujo nome já é destaque no Ceará e em outros estados. Portador da doença Charcot-Marie-Tooth, que impõe uma diminuição da sensação dos membros, em especial das pernas e pés. Nos casos mais graves, pode ocorrer a atrofia muscular.

Aos 48 anos, Francisco tem dificuldades de movimento e na fala. A voz sai confusa ao telefone, mas nem por isso deixa de expressar a alegria inerente ao espírito desse cearense nascido em Crateús. "Estou bem de ficar na cadeira de rodas. A fala também foi afetada e ultimamente tenho sentido na visão e na memória. Da audição, perdi 35%", contabiliza o artista.

A estratégia de Francisco para lidar com a doença é trabalhar muito. "Dia desses, comecei às 6 horas e fui até 23 horas. Produzir bastante faz bem à mente, à alma e ao coração", aconselha. Demanda, ainda bem, não falta. Após finalizar a consagrada xilogravura "Os quatro elementos", de 20 metros (que marcou sua presença na VII Bienal do Mercosul, realizada em Porto Alegre, em 2009, e hoje encontra-se no Museu Afro Brasil, em São Paulo), Francisco atualmente dedica-se a outro painel, encomendado para o Aeroporto da Capital cearense.

"Comecei em março e termino ainda neste mês. Diferente do primeiro, mais centrado na religiosidade e em elementos da cultura popular, este traz elementos do Ceará, como a renda, a jangada e outras coisas", explica o gravurista.

Até o fim deste mês, Francisco também precisa finalizar outro painel, porque foi contemplado pelo Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2010. "Isso é um conforto, porque o importante é a cabeça. Não dá tempo pra pensar em outra coisa".

ADRIANA MARTINS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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