terça-feira, 12 de abril de 2011

O ninho de Chico

80 anos cheios, completos, e com a saúde revigorada: Chico Anysio aniversaria hoje e o Vida & Arte comemora a data fazendo uma visita à sua Maranguape, que guarda mais lembranças recentes que antigas do humorista

Chico Anysio deixou Maranguape com oito anos, mas sua fama Brasil afora impregnou a cidade de lembranças e histórias (FOTO SARA MAIA)
O viajante que a sorte encarregou de levar pelas bandas de Maranguape pode perguntar a qualquer um na calçada, na bicicleta ou levando os meninos para casa: onde morou um dos seus filhos mais ilustres, Chico Anysio? “Pode ir reto, dobra lá na frente e depois vai direto”. A casa fica perto do cemitério, região que alguns maranguapenses gostam de identificar como Preguiça, dado à malemolência dos residentes da área. Depois do muro branco, um terreno largo e generoso, verde e cheio de silêncio, guarda a casa ampla, sem forro. Nenhum outro móvel daquela época resistiu. Foi ali onde nasceu, há 80 anos, o comediante Chico Anysio.

Do outro lado da rua, o velho Gerardo Dias de Souza, já agora com a vista turva e escurecida, descreve aquele tempo, quando o irmão mais velho de Chico Anysio, Elano de Paula, levava os meninotes todos na caçamba da camionete. Era fim dos anos 1930, não seria apenas uma carroça? A pergunta fica sem resposta. Com 83 anos recém-feitos, o retrato que guarda dos vizinhos é de pura presepada, marmota, mungango, gaiatice. Na cadeira posta à porta de casa, rodeado pelas muriçocas, ele fala das muitas visitas que a casa recebia, da vida que pulsava ali, dos cafés da tarde. “Era um pagode mais lascado do mundo”.


No tempo do talvez
Célio Cavalcante, 77 anos, aposentado, bota panos quentes na efusividade de seu Gerardo. No bar do Xavier, onde ele encontra a turma toda terça, lembra que Chico talvez tenha tomado banho de açude, talvez tenha visto a maravilha que era a manobra do trem, talvez tenha participado das brincadeiras dos meninos, como quando colocaram uma mesa de madeira em cima da cabeça do Capistrano de Abreu, outro filho nobre de Maranguape. “Ele foi embora daqui muito pequeno, mas já naquela época era gaiato”. O humorista contava oito anos, e o pai tinha perdido a riqueza familiar num incêndio. “Ele vinha depois, nas férias. Mas era a mãe quem mais dava notícia dele”.

Há quem diga que Capistrano tenha batido uma bota na outra para dali não levar nem a poeira. E que Chico Anysio tenha feito o mesmo. À primeira pergunta da reportagem, se seu Chico Façanha, dono de mercadinho de frente para uma praça, conheceu o xará, ele responde de pronto: “Mas preferia não ter conhecido”. E deu a falar de como o humorista não faz nada pelo Maranguape. “Minha madrinha é até tia ou prima dele, a dona Maria Paula. É um bom artista, mas poderia fazer algo pela terra natal”. O segurança Francisco Augusto, 66, reconhece o conterrâneo por ter feito história. “Acho ele engraçado, tem muitos personagens, todo mundo conhece”.

Os recentes problemas de saúde fizeram Chico Anysio sair de cena. É a esposa dele, Malga di Paula, quem dá conta da saúde do humorista, pela rede social Twitter: está preparando “algo especial para ele”. Não especificou qual seria a surpresa. Mas garantiu: “Claro que vamos comemorar durante todo o ano”. Lá em Maranguape, há quem faça a previsão: próximo busto de praça – das muitas que Maranguape tem – é dele. Muito justo!


Quando

ENTENDA A NOTÍCIA

Após passar 110 dias internado, entre dezembro de 2010 e março de 2011, quando passou por uma angioplastia e sofreu uma pneumonia, Chico Anysio volta para casa e dá início ao processo de recuperação. Recebeu familiares e amigos, mas não voltou para suas atividades. É nesse contexto que ele comemora hoje 80 anos.


Júlia Lopes
ENVIADA A MARANGUAPE

julialopes@opovo.com.br


Fonte: O Povo

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