quarta-feira, 16 de março de 2011

A prosa sertaneja de Jessier Quirino

Com rimas que contam causos e contos da cultura popular nordestina, o declamador e poeta Jessier Quirino se apresenta no Theatro José de Alencar 

Foto: Divulgação
Jessier Quirino é um estudioso da cultura sertaneja, um observador da vida nordestina, um admirador dos causos e contos que brotam do mato. Os trejeitos, as expressões matutas, a tranquilidade do sertão, a seca e o brejo, toda a característica interiorana cabe na forma peculiar das apresentações de Jussier. Quando subir nesta sexta-feira (18) e sábado (19) ao palco do Theatro José de Alencar, o artista paraibano vai mais uma vez aliar poesia, memória e humor para cativar o público.

Apesar da forte influência da literatura de cordel, usada pelos repentistas que se apresentam em duplas e travam verdadeiras batalhas poéticas, Jessier preferiu um caminho um pouco diferente, que lhe confere originalidade no trato com a rima falada, ganhando ainda mais vida com a inconfundível presença solo no palco. Nas apresentações, ele faz uso da convergência de diferentes linguagens culturais, aprendidas sobretudo em Campina Grande (PB). Assim, a imagem do artista aparece de forma múltipla e cativante, com fortes expressões que demonstram suas influências teatrais. “Tem muito de teatro, são textos longos que eu escrevo e memorizo”, diz Jessier.

A diversidade não fica só na forma, aparece também no conteúdo, com diferentes temáticas permeando a apresentação. Nas histórias de amor mal resolvido, passando por ironias políticas e críticas sociais, o artista lança mão do sarcasmo e do humor para contar o mundo sob o olhar do matuto, do interiorano.

O espetáculo terá como mote o livro mais recente do autor, intitulado Berro Novo, que ganhou também versão em CD. A temática da vida campestre é a mesma que já fez sucesso em trabalhos anteriores, responsáveis pelo reconhecimento do artista, que já lançou oito livros e cinco CDs. “O interiorano tem muita sabedoria, aprendeu na universidade da vida, na pobreza e sai das dificuldades sempre com muita esperteza, essa é a graça da história”, explica o artista.

As mudanças causadas pela globalização e pelas novas tecnologias trazem novos cenários para as tradições nordestinas. Isso também não escapa ao olhar atento de Jessier. Indagado se a cultura interiorana estaria sendo desvalorizada nos novos tempos, ele diz não enxergar a questão com olhos preocupados. “O que está havendo é uma transformação causada pelo trator da modernidade, mas não acho que as tradições estejam se perdendo, inclusive percebo que há certo saudosismo das palavras, da qualidade de vida e da contemplação da vida no interior.”

Atualmente, Jessier tem uma agenda lotada, se apresentando para o grande público e também em eventos empresariais. Com isso, a relação direta com o sertão e as pequenas cidades foi se tornando mais escassa, mas nem por isso ele perde contato com as histórias que servem de matéria-prima para seu trabalho. “Hoje vou menos ao interior, mas o interior vem mais a mim”, justifica. Segundo ele, chegam com frequência muitos trabalhos, histórias e sugestões de pessoas do interior que se identificam e admiram sua arte.

Embora seja essencialmente sobre a vida do matuto, a obra de Jessier já transcendeu a barreira desse público e hoje é apreciada e bem recebida por diferentes plateias. Ele já se apresentou na Rede Globo no Programa do Jô e fez uma participação como ator na minissérie A Pedra do Reino, de 2007. Ele diz que, depois disso, já recebeu vários convites para trabalhar com teledramaturgia, mas recusou devido à necessidade de tempo para sua intensa produção literária.

Sobre as apresentações em Fortaleza, Jessier, que já se apresentou algumas vezes na cidade, diz que seu trabalho é muito bem aceito, com muita participação e identificação do público. “Fortaleza é um polo de convergência dessas tradições, então o público me surpreende positivamente pelo interesse e o conhecimento de causa do assunto.”

SERVIÇO
RECITAL COM JESSIER QUIRINO
Onde: Theatro José de Alencar (Pça. José de Alencar, s/n – Centro)
Quando: sexta-feira, 18, e sábado, 19
Horário: 20h
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia e idosos)
Informações: 3101.2583
Marcos Robério 

Fonte: O Povo

Nenhum comentário: