terça-feira, 29 de março de 2011

Caminhos da Arte - desperta cultura nas escolas públicas

Projeto une arte e educação para celebrar os 60 anos da empresa Nacional Gás e beneficia 10 mil estudantes

Mergulho na história: estudantes dos 184 municípios cearenses apreciam exposições de arte
FOTOS: RODRIGO CARVALHO
O brilho no olhar da aluna do 9º ano de uma escola de ensino fundamental de Paraipaba, Maria Joveline Nascimento Félix, ao contemplar, pela primeira vez na vida, uma das obras-prima de Jean-Baptiste Debret evidencia que a arte realmente abre portas para um caminho onde o impossível não existe.

A estudante perante a criação. O encantamento diante do conhecimento, do saber, da cultura. Essa cena se repete com todos os estudantes de escolas públicas dos 184 municípios do Ceará ao percorrerem duas exposições em cartaz no Espaço Cultural da Universidade de Fortaleza (Unifor): a Brasiliana Itaú e Brassaï - Paris la nuit.

Mergulho na história
A visita, um verdadeiro mergulho pela história do Brasil e a Paris do século passado, é possibilitada pelo projeto Caminhos da Arte que marca os 60 anos da Nacional Gás, empresa do Grupo Edson Queiroz. Para Maria Joveline, um momento inesquecível compartilhado com seus colegas da Escola Francisco Figueiredo de Paula. Para a Nacional Gás e a Fundação Edson Queiroz/Unifor, a possibilidade de levar cultura e arte e saber para 10 mil crianças e jovens de todos os recantos do Estado.

Conhecimento
O projeto começou no último dia 21 e prossegue até 1º de maio. Três mil estudantes já passaram pelo espaço e puderam ver de perto quadros, documentos e gravuras que só poderiam encontrar em livros de História. "É além de minha imaginação", atesta Mayara Maria Monteiro, de 14 anos de idade e do município de Umirim.

Para Alisson Bruno de Castro, de 13 anos, o projeto da Nacional Gás também proporciona outros conhecimentos.

Ele tem razão. A proposta do Caminho da Arte vai além da visitação às mostras dos espaços expositivos da universidade. Os jovens participantes do projeto também fazem um tour pelo campus da Universidade, fortalecendo o vínculo entre cultura, arte e educação.

Os alunos interagem com outras iniciativas culturais da Unifor, como o Teatro Celina Queiroz, a Camerata da Unifor e o coral. "É um sonho para mim que quero entrar para a Faculdade de Medicina", diz.

De cada escola públicas, três adultos compõem a comitiva. Assim, a visita passou a ser um privilégio não apenas para os estudantes, mas igualmente para os professores.

Os educadores também são beneficiados, enriquecendo o conteúdo explorado em sala de aula aos elementos vistos durante a exposição.

"A iniciativa é muito importante porque poderemos multiplicar o que aprendemos aqui com os outros alunos", avalia a professora Regiane Maria da Silva Pessoa.

Viagem no tempo
Olhos atentos, máquinas fotográficas a mão e lá vai o grupo da escola Eneias Ferreira Nobre, do município de Ibicuitinga (região do Sertão Central) - uma das noves instituições que passaram pelas duas mostras ontem - para uma viagem por entre luzes e sombras da Paris noturna e transgressora dos anos 1930.

É esta a sensação que se tem diante da exposição de fotografias do húngaro Brassaï (1899 - 1984). A mostra, que tem curadoria da pesquisadora francesa Agnès de Gouvion Saint-Cyr, é constituída por cerca de 98 fotos em preto e branco.

"Nossa! Que incrível", foi a única frase pronunciada por José Gerônimo Freitas, de Itaiçaba (no Baixo Jaguaribe). A cada foto a expressão de magia em seu rosto, falava pelo garoto.

Diante da bela Torre Eiffel, as alunas registraram a imagem que desperta tantos sonhos. "É tudo muito lindo, diferente de nossa vida", emocionou-se Patrícia Maria de Araújo, do município de Limoeiro do Norte.

Na Coleção Brasiliana Itaú, o deslumbramento diante de obras dos principais artistas viajantes do Brasil Colônia, entre eles, Debret e Armand Julien Pallière. Este último, autor do panorama da cidade de São Paulo, de 1821, uma das peças mais raras da exposição.

Brasil Colônia
Os alunos passam pelos núcleos Brasil Holandês (que inclui uma belíssima peça de tapeçaria); pelo Brasil dos Naturalistas e o Brasil dos Viajantes (com desenhos, gravuras e álbuns de exploradores e pesquisadores europeus); pelo núcleo Rio de Janeiro, que apresenta vasta iconografia da cidade e seus habitantes - então parada obrigatória de qualquer artista viajante que chegava no Brasil naquela época.

Toda as visitas são guiadas por monitoras, alunas da Unifor, que vão explicando com detalhes cada período da coleção. Entre eles, grandes momentos da história e da cultura brasileiras por meio de cartas, manuscritos, atos oficiais assinados, desenhos e outros documentos, além das primeiras edições de vários livros famosos na literatura brasileira (alguns com dedicatória). "É um dia que levarei em meu coração e na minha memória para sempre", resumiu o sentimento de cada colega, Maria Joveline Nascimento.

MAIS INFORMAÇÕES
As duas mostras ficam em cartaz no Espaço Cultura Anexo até 1º de maio.

De terça a sexta, das 10 às 20 horas, e sábados e domingos, das 10 às 18h

ACERVOExposições apresentam o Brasil Império e Paris
As duas exposições em cartaz atraíram a atenção dos alunos. Durante a visitação, eles pediam informações sobre eles, como as peças, os artistas, período da história em que eles estão contextualizando.

As peças da Exposição Brasiliana Itaú compõem um dos mais abrangentes acervos artísticos da História do Brasil. Entre as raridades, há uma tela pintada com tinta a óleo por Arnaud Julien Pallière que retrata a vista a cidade de São Paulo em 1821. Em ´Segundo Casamento de D. Pedro I´, de 1829, Jean-Baptiste Debret ilustra o matrimônio do jovem monarca com D. Amélia.

O maior panorama do Rio de Janeiro do século XIX, medindo seis metros; o melhor exemplar conhecido da primeira enciclopédia da flora e fauna do Brasil aquarelado à mão; a primeira partitura da ópera O Guarany; a primeira edição de Os Sertões de Euclides da Cunha; primeira edição do único livro de poesias de Augusto dos Anjos; primeiras edições dos clássicos infantis de Monteiro Lobato constam na exposição.

A escravidão aparece em gravuras de Johann Moritz Rugendas, expostas ao lado de cartas de alforria e documentos de compra e venda de escravos. Há também manuscritos de governantes brasileiros, livros encadernados para a família real e moedas fabricadas em homenagem à coroação de D. Pedro I.

Enquanto que a Exposição Brassaï - Paris la nuit apresenta 98 fotografias em branco e preto de um dos fotógrafos mais célebres de século XX, o húngaro Brassaï.

Ele adotou Paris após a Primeira Guerra Mundial e se transformou em um de seus fotógrafos mais consagrados. Brassaï, cujo nome de batismo é Gyula Halász, foi membro da elite cultural de Paris, estando Miller, Picasso, Sartre, Camus e Cocteau, entre seus amigos mais ilustres. Sua obra registrou Paris de forma irreverente.

LÊDA GONÇALVES
 REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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