domingo, 18 de abril de 2010

8-Nicodemos Araújo-Poesias

Relembrando
Eu fui rever, um dia, curioso,
A velha casa escura, abandonada,
Em que passei o tempo venturoso
Da minha terna infância descuidada.
Naquele velho ninho dulçuroso
– Relicário bendito da alvorada
De minha vida, – recompus, saudoso,
Os sonhos doces dessa fase amada.
Quanta saudade dolorosa, infinda,
Dos louros dias dessa quadra linda,
De doçura, de risos, de bonança...
Oh! velha casa que eu venero tanto.
És como o escrínio precioso e santo
Dos meus dourados sonhos de criança.

Mater Christi
Ao Revmo. Pe. Odécio Loiola
Ó doce Mãe de Deus, augusta e pura,
Cheia de graça e ungida de bondade;
Relicário bendito de ternura;
Luz tutelar da pobre humanidade.
Quis o bom Deus, sublime criatura,
Dar-te a mais alta e augusta majestade:
–Do Eterno Reino da celeste altura
Fez-te Rainha, ó fonte de piedade.
E ergueu-te, sobre tudo, a Providência,
Quando em sua infinita onipotência,
Em seu saber intérmino, profundo,
Numa noite imortal de excelso brilho,
Fez à terra descer, feito teu filho,
O próprio Deus, para remir o mundo.

Meu Verso
Meu verso é o vozear nostálgico e dolente
Do mísero proscrito errante e amargurado
Que do tétrico exílio, a chorar, tristemente,
Palmilha o trilho atroz de cardos alastrado.
Meu verso é o soluçar da juriti gemente,
Que ao por do sol, além, no balsedo intricado,
Procura e chama, aflita, o companheiro ausente,
Morto a bala cruel de um caçador malvado.
Meu verso é como a voz do filho que, sozinho,
Vive longe do lar, distante do carinho
De sua mãe querida, o seu querido amor.
Meu verso é uma harpa triste e cheia de amargura
De um homem que há passado a sua vida escura,
No calabouço atroz e lúgubre da dor.

O Rio Acaraú
A José R. Fontenele
Lá da “Serra da Mata”, alcantilada,
O “ACARAÚ”, soberbo e caudaloso,
Ao impulso do inverno poderoso,
Desce na sua extensa caminhada.
Ninguém ousa detê-lo na jornada.
E o legendário rio impetuoso,
Marcha, entre o verde carnaubal viçoso,
Ao suave cantar da passarada.
No seu imenso leito serpejando,
Passa continuamente murmurando
Os brandos sons de singular canção.
E o velho mar o abraça jubiloso,
Como um pai recebendo carinhoso,
O filho amado de seu coração.

Mater Christi
Ao Revmo. Pe. Odécio Loiola
Ó doce Mãe de Deus, augusta e pura,
Cheia de graça e ungida de bondade;
Relicário bendito de ternura;
Luz tutelar da pobre humanidade.
Quis o bom Deus, sublime criatura,
Dar-te a mais alta e augusta majestade:
–Do Eterno Reino da celeste altura
Fez-te Rainha, ó fonte de piedade.
E ergueu-te, sobre tudo, a Providência,
Quando em sua infinita onipotência,
Em seu saber intérmino, profundo,
Numa noite imortal de excelso brilho,
Fez à terra descer, feito teu filho,
O próprio Deus, para remir o mundo.

Padre Antônio Thomaz
No 10º aniversário de seu passamento
Há dez anos partiu, na grande caminhada
Da qual jamais retorna a humana criatura,
O Levita de Cristo, amante da Cultura,
Primoroso cultor da palavra rimada.
Sua lira de mestre, egrégia e sublimada,
Soube cantar em voz maravilhosa e pura,
O Céu, a Terra, o Mar, a humana vida escura,
As campinas em flor e a leda passarada.
Imorredoira seja a rútila memória
Desse bardo sem par que, nimbado de glória,
Do Bem seguiu na vida o lúcido roteiro.
E que em sonhos geniais belíssimos, imerso,
Derramou, generoso, os mimos do seu verso,
Num chuveiro de luz, pelo Brasil inteiro.

Nossa Senhora Aparecida
A José Edson Magalhães
Bendita sejas, Mãe Aparecida,
Augusta Soberana imaculada,
Cuja imensa bondade é proclamada
Por céus e terra, em voz de amor ungida.
Das multidões a prece comovida
Se eleva à tua corte sublimada,
Implorando esta paz abençoada
Que vem do céu abençoar a vida.
Ó poderosa e excelsa Padroeira,
Conserva sempre a gente brasileira
Feliz e nobre, unida e varonil.
Que viva e cresça este País amado
Sob o teu santo e maternal cuidado,
Minha Nossa Senhora do Brasil.

Cidade de Acaraú
Ao Exmo. Sr. Dom Edmilson Cruz
Oh! minha Acaraú, nobre cidade amada,
Onde encontrei na vida o meu segundo pouso,
Gosto de ver-te assim sob este sol radioso,
Majestosa e tranqüila, em farta luz banhada.
Vejo, a brincar feliz, cantando, a passarada,
No rancho alegre e bom do mangueiral frondoso;
Contemplo o rio ancião que descrever não ouso,
A ponte, a caixa d’agua, a ilha alcatifada.
Admiro a Matriz na bela arquitetura,
– Marco de fé cristã que avança pela altura,
Dominando jardins e praças e capelas...
E os coqueiros senis de palmas viridentes
Avisto, a cada passo, eretos, imponentes,
Lembrando um pelotão de enormes sentinelas.

Almofala
Ao Dr. José Maria Sales
Aos carinhos gentis da viração marinha,
Sob a concha do espaço imenso e cor de opala,
Ei-la modesta e alegre, a vila de Almofala,
Ressurta do areal enorme que a retinha.
Toda branca e formosa, a velha capelinha,
Pela antena da fé, à própria alma nos fala,
E como que postado ali para guardá-la
O humilde casario em fileiras se alinha.
Bem perto o mar imenso estruge, e brame, e espuma...
As jangadas abrindo as velas, uma a uma,
Avançam no vaivém cantante das marés.
E o brando farfalhar do coqueiral virente
Às vezes vem trazer à lembrança da gente
O bizarro torém dos bravos Tremembés.

Manhã Sertaneja
Ao Dr. Francisco José Ramos Gomes
É manhã no sertão. A esbelta carnaubeira
sacode, ao vento brando, a fronde verdejante
e o rio, em turbilhões, dominando a ribeira,
rola as águas buscando o velho mar distante.
Ali é a casa-grande, alpendrada e fagueira,
que acolhe, hospitaleira, o cansado viajante.
Tem ao lado o curral, onde a vaca leiteira
Fornece refeição nutritiva e abundante.
Ao fulgor da manhã, tudo se aclara e doura.
Homens passam, cantando, em rumo da lavoura,
Tendo a fé dentro dalma e sobre o ombro a enxada.
E o sol parece um disco esplendoroso e lindo,
Suspenso do infinito azul, retransmitindo
O canto matinal da alegre passarada.

Meu pé de papoula
Há no estreito quintal de minha residência
uma linda atração de nossa mãe natura.
É um pé de papoula em plena florescência,
de trezentos ou mais centímetros de altura.
Gosto muito de ver seu verde e rubescência
– oferta vegetal encantadora e pura –
quando em sua pomposa e excelsa aurifulgência,
o clarão matutino em leque já fulgura.
E todas as manhãs, assim que o sol desponta,
pontualmente eu vou ali fazer a conta
das papoulas acaso então desabrochadas.
Esta é uma distração que me seduz e encanta,
ver o viço, a beleza e o garbo dessa planta,
– um lindo festival de flores encarnadas.

Manhã de sol
Para o jovem intelectual Vicente Freitas
Linda manhã de sol. Luz e calor.
Em sua nova e esplêndida beleza,
festivamente acorda a natureza,
para a vida comum, para o labor.
O astro rei espalha seu fulgor,
manifestando a sideral realeza.
Tudo canta ante a rútila grandeza,
em coro harmonioso e encantador.
Há música nos campos e nos ninhos.
É a leda orquestração de um novo dia,
Sinfonizada pelos passarinhos.
E esta harmonia universal traduz
o festival de cor e de energia
do mundo inteiro se banhando em luz.

Araújo, Vicente Freitas – O Carpinteiro das Letras: perfil
biobibliográfico e antologia de Nicodemos Araújo,
Tanoa Editora, 2004

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