domingo, 18 de abril de 2010

5-Nicodemos Araújo-O Históriador e o Poeta

O primeiro livro escrito por Nicodemos Araújo trata-se de uma pequena Monografia sobre a História da povoação de Santa Cruz do Acaraú, atual cidade de Bela Cruz, berço do poeta. Publicado em 1936, pela gráfica do Jornal “O ACARAÚ”, contém importantes informações sobre a vida religiosa setecentista, da famosa capela do Alto da Genoveva.
Em 1940, Nicodemos publica seu 2º. Livro de história, “Município de Acaraú”. Como a denominação indica, eram dados históricos relativos aquele município, e que foram recebidos com manifesto interesse pelo público. O Príncipe dos Poetas Cearenses – Pe. Antônio Thomaz, assim escreveu: “Filho dessa boa terra e cioso como quem mais o seja de suas tradições, foi com o maior prazer e o mais vivo interesse que percorri todo o seu livro, admirando-lhe o paciente labor na pesquisa dos vários documentos nele enfeixados. Felicito-o muito calorosamente por mais este marco plantado em sua carreira literária, e faço votos para que surjam em breve, para honra e glória de nossa terra, novas produções de seu formoso talento.


Em 1981, publicou “Almofala e os Tremembés”, obra estruturada em moldes semelhantes aos utilizados naquelas em que o autor guardou os fatos históricos do “Município de Acaraú” e “Bela Cruz”.
Segundo os estudiosos da lexicografia, a palavra Almofala é portuguesa, de procedência árabe, Almoala – que significa aldeola e lugar onde se mora durante algum tempo.
O Professor José Alcides Pinto também opina pela mesma definição: “Almofala, velho topônimo português, termo antiquado, que significa arraial. De origem árabe (PINTO, 1979).

Em artigo publicado na imprensa de Fortaleza, Alcides Pinto, afirma: “Não sei se Nicodemos Araújo é um autodidata, mas isso não importa, o certo é que ele escreve com ativismo, com um estilo aberto à comunicação e espírito de síntese, o que nem todo historiador consegue (...) Nicodemos conhece bem o terreno que pisa e os ares da região onde vive. Tudo isso concorre para a autenticidade de sua obra, rica sob todos os aspectos, sob a visão muito responsável e sensível do autor”.


Vale aqui destacar as memórias genealógicas, escritas por Nicodemos Araújo. Em 1977, publica “Descendência de Meus Avós”, onde se mostra orgulhoso de sua ascendência. Os dados genealógicos que colheu estendem-se, na linha ascendente, até José de Araújo Costa, nascido em 1717, na comunidade de Santa Lúcia de Barcelos, Arcebispado de Braga, em Portugal.

O escritor Joaryvar Macedo, ao se reportar aos escritores do interior cearense, comenta: “Na Zona Norte, o Pe. Francisco Sadoc de Araújo, mestre inconteste da historiografia, vem edificando, através de apuradas perquirições, um verdadeiro monumento neste tocante. Ali ainda, Nicodemos Araújo trabalha incansavelmente, na seara literária e no levantamento histórico da área do Acaraú” (RAMOS,1987).


Mas antes de enveredar pela história, Nicodemos já havia escrito “Harmonia Interior” (Poesias,1935), com bela apresentação do poeta Dedek Fontenele, como bem noticiou o Jornal “O Acaraú, em sua edição do dia 3 de março de 1935:
“Confeccionado nas oficinas desta folha acaba de ser dado à luz da publicidade o “Harmonia interior” – primeiro livro de versos de nosso prezadíssimo companheiro de trabalho Nicodemos Araújo.

Se é certo que o estilo é a alma do escritor, “Harmonia interior” reflete bem, nas suas páginas singelas, mas cheias de beleza, a alma modestíssima, mas pura e ardente, sincera e doce, de Nicodemos Araújo.
Ler “Harmonia interior” é privar em espírito com o poeta que traçou naquelas páginas mimosas, versos ternos e suavíssimos como os da poesia “A Minha Mãe”:

“Sete anos. Minha infância
Que jamais há de voltar,
Gostava de repousar
No seu regaço encostado
Naquele ninho suave
Docemente dormitava
Enquanto ela cuidava
Do meu cabelo anelado”.

Quanta suavidade e quanta ternura ressumbra destes versos, dedicados à santa mãezinha que lhe deu o ser, e que lhe enche a vida!

Nicodemos nasceu poeta. É uma verdade o que ele diz no prefácio do seu livro, copiando Carlos Cavaco – nunca teve mestres.
Autodidata, o poeta buscou nos livros tudo que sabe.

A sua adolescência, passada num vilarejo obscuro, onde não havia estímulo, e onde o seu espírito, ávido de luz, buscava incessantemente fugir às trevas que o cercava, foi toda dedicada ao manuseio de uma meia dúzia de bons volumes.

Baldo de recursos materiais, Nicodemos, alma forte, inteligência robusta, era entanto rico de talento. Lutou e venceu. “Harmonia Interior” é o valioso troféu conquistado na luta tenaz que travou ainda no verdor dos anos contra a adversidade e a ignorância.
É-nos sumamente grato compartilhar das alegrias íntimas do querido companheiro que vê coroado de êxito os seus esforços e os seus estudos.

Colhe, Nicodemos Araújo, em “Harmonia interior” o primeiro fruto opimo de seu trabalho. Não foi inútil o sacrifício de sua juventude passada em meio de grandes vicissitudes.
É por isso que felicitamos duplamente o querido companheiro, que ora nos apresenta o apoio valiosíssimo de sua inteligência – felicitamo-lo pela publicação de “Harmonia interior” e pela vitória de sua tenacidade".

Araújo, Vicente Freitas – O Carpinteiro das Letras: perfil
biobibliográfico e antologia de Nicodemos Araújo,
Tanoa Editora, 2004

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